«A Paz brota da Comunhão entre os Homens»

No contexto da celebração do Natal, com o olhar em Nossa Senhora Mãe de Deus, somos convidados a viver o primeiro dia do ano acolhendo o dom da Paz e de nos comprometermos nos caminhos que nos conduzem à tão ansiada Paz.

Na verdade, desde os inicios da história da humanidade e nomeadamente nos tempos em que vivemos, o ser humano procura a Paz.

Efectivamente sendo um dos mais profundos anseios por que clama a humanidade, merece uma especial atenção, não só sobre a sua natureza mas também do que se reveste de desafio e compromisso para com cada pessoa na sua edificação.

Segundo a revelação bíblica e sobretudo na pessoa de Jesus de Nazaré, a Paz é um dom de Deus que é concedido quando implorado e quando o coração do homem se prepara para o acolher. Mas é igualmente um compromisso por estabelecer relações pessoais que têm como modelo as Bem – Aventuranças proclamadas pelos Evangelhos e que caracterizam os critérios de quem deseje construir uma sociedade no amor, na misericórdia, na partilha de vida e na atenção privilegiada aos mais excluídos.

Aí se exalta «Bem – aventurados os construtores da Paz porque são chamados filhos de Deus».

Para este ano, o Papa Francisco na Menagem para o Dia Mundial da Paz, através do lema «a Paz como caminho de Esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica» destaca cinco condições para obter o dom da Paz. A primeira refere-se ao caminho da esperança face aos obstáculos e provações; a segunda sublinha o caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade; a terceira enaltece o caminho  de  reconciliação  na  comunhão  fraterna;  a  quarta  realça  o

 

caminho de conversão ecológica; e a quinta apela para a esperança na certeza de que se obtém tanto quanto se espera.

Estamos perante cinco condições que são igualmente desafios ao compromisso pessoal e comunitário, dos cidadãos e das sociedades, para se edificar a Paz.

Nunca é demais reconhecermos que a Paz começa em cada um de nós, no ambiente familiar, nas diversas instituições educativas, em cada comunidade e nas variadas estruturas culturais e sociais. Cuidar do modo como nos relacionamos, como acolhemos, como salvaguardamos a dignidade de cada pessoa e do bem comum, é algo preciosíssimo para a edificação da Paz.

Dada a relevância que a comunicação social tem nas nossas sociedades, nomeadamente as redes sociais, é uma profunda exigência colocada aos comunicadores serem verdadeiros construtores da Paz, na verdade, na justiça, na defesa dos mais débeis, provocando gestos de autêntica solidariedade, fraternidade e respeito pela dignidade de cada pessoa.

Naturalmente, que aos governantes, nas diversas instâncias de poder, exige-se-lhes um redobrado cuidado de modo que tudo se faça para favorecer a construção da Paz. Na referida Mensagem, o Papa Francisco sublinha que «a questão da paz permeia todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema económico mais justo». E esclarece, recorrendo ao Papa Bento XVI, referindo que se exige «a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de atividade económica caraterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão».

Estamos de há longos anos a debatermo-nos com a crise ecológica e pela degradação violenta do meio ambiente que resulta numa crise climática que está a afectar as condições de vida de muitos povos.

O Papa não só chama a atenção para a relação entre a edificação da Paz e o cuidado com a criação mas apela a um compromisso pela preservação do ambiente de modo a criar condições de vida.

 

Atendendo ao caminho de reconciliação que «inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum» somos convidados a descobrir as «motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana».

Daí a exigência à ecologia integral que no dizer do Papa exige uma conversão de modo a suscitar a «transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida».

A tarefa é de tal maneira enorme que poderia levar ao desanimo. Por isso, o Papa apela à esperança e a rejeitar qualquer ameaça do medo. Porque, diz ele, «o medo é, frequentemente, fonte de conflito. Por isso, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24)».

Daí o compromisso numa cultura do encontro porque só deste modo, numa promoção da cultura do encontro entre irmãos e irmãs se rompe com a cultura da ameaça.

Na verdade, a cultura actual projectou o medo sobre as condições de vida das pessoas; por isso, importa, como refere o Santo Padre, abrirmo-nos ao caminho da reconciliação com paciência e confiança. Na certeza de que «não se obtém a paz, se não a esperamos».

Colocando-nos sob o olhar e protecção de Nossa Senhora que na Sua Maternidade divina nos oferece a Jesus o Principe da Paz nos impulsione a edifica-la em cada pessoa, em cada família, em cada comunidade, nas nações e no mundo actual.

Apresento os meus votos de um Ano Novo abençoado por Deus e que   todos   os   diocesanos,   nomeadamente   os   mais   sofredores   e

 

carenciados  da  verdadeira  paz,  sejam  agraciados  pelos  gestos  que conduzem à Paz.

 

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores