Ponta Delgada.

Por ocasião das grandes festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que ocorrem no Convento de Nossa Senhora da Esperança, junto ao Campo de São Francisco e da igreja de São José em Ponta Delgada, entre os dias 20 e 23 de maio do corrente ano, saúdo a todos os peregrinos que, de longe e de perto, ocorrem ao mais antigo santuário diocesano dos Açores.
Saúdo os peregrinos da cidade e do concelho de Ponta Delgada, que têm, por essa razão, o seu feriado municipal a saborear e alargar a beleza inabarcável da festa. Saúdo os micaelenses que por terra se dirigem ao santuário da Esperança, bem como todos os açorianos que pelo mar e pelo ar aportam e aterram com o mesmo destino e propósito. À entrada da porta, vamos dizer: «Viemos, Senhor». Chegamos a Ti, que queres que eu faça?
Saúdo os peregrinos que chegam de todos as partes de Portugal continental e insular, de diversos países da Europa, do Canadá, dos Estados Unidos da América e dos países lusófonos, sobretudo os que trazem consigo as dores e as alegrias da emigração e da mobilidade, como se de partidas e chegadas se tratasse.
Saúdo o Senhor Cardeal José Tolentino de Mendonça, a chegar com o espírito simples e devoto de um romeiro de Roma, fazendo-se peregrino da Esperança no chão sagrado de uma fogueira do mar onde habitamos. Agradecemos ao Santo Padre por nos ter dispensado um colaborador próximo e membro do colégio cardinalício, para nos oferecer o ministério episcopal na diocese açoriana que agora dele carece.
Saúdo os presbíteros, diáconos e seminaristas que aqui rumam, bem como os consagrados e consagradas, sobretudos as Irmãs do Bom Pastor, dando continuidade à missão das antigas clarissas do mosteiro da Esperança, no zelo e na entrega da imagem do Senhor. Saúdo a Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres que, há mais de dois séculos, cultiva a dimensão externa e pública do culto que a Madre Teresa da Anunciada em boa hora nos fez chegar.
Após dois anos sem nos encontrarmos presencialmente, eis chegada a feliz hora de nos colocarmos diante de Cristo, ao lado uns dos outros, de olhar fixo no mesmo Senhor, podendo ver, ouvir, tocar, cheirar e saborear o que aqui acontece. Só sentindo!
Depois dos fenómenos inesperados da segunda década do século atual, aprendemos a dar valor ao que somos e temos, pelo que perdemos. A pandemia e a guerra, fenómenos que julgávamos arcaicos e ultrapassados, de consequências nefastas de longo alcance, já vistas e ainda desconhecidas, estão aí na dureza da realidade e dos seus efeitos.
Nesta festa descobrimos o Mistério que está dentro de nós, com o qual nos encontramos, tomando consciência dessa presença transcendente que nos habita, mediante a mediação inspiradora da imagem do Senhor Jesus na sua paixão. Essa é também a paixão da Humanidade atual que não ignoramos, por paradoxal que possa parecer num ambiente de festa.
Será tudo igual na tradição, diferente na originalidade de cada tempo, um encontro sempre novo para as crianças que agora despertam, para os jovens que com paixão sonham, para as famílias que nestes dias fortalecem os laços de comunhão, para os idosos e doentes, que se revêm na bondade, paciência e doação do Senhor Santo Cristo.
A fé cristã, e a moral evangélica que dela emana, não pretende atingir a perfeição, de seres humanos perfeitos, sem defeitos, mas é feita de fecundidade, de frutos bons, de lutas e de cansaços, de esterilidades vencidas e rugas expostas, tal como a velha árvore do Campo de São Francisco que é capaz de se doar toda e que ainda nos abriga e conforta.
A partir de agora, nada está adquirido, como sempre foi. A decisão ética e o imperativo da fé não fazem parte de um progresso garantido sempre crescente, linear ou de uma conquista vitalícia. A fé em Cristo é uma decisão sempre renovada em cada sujeito e em cada geração.
Bem-vindo Senhor Santo Cristo, bem-vindos à experiência única do encontro deste ano.

P. Hélder, Administrador Diocesano de Angra