«Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» – Jo. 10,10

Em cada Natal, marcado pelo nascimento de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, o ser humano, pessoal e comunitariamente, reveste-se de alegria e de esperança.

A sociedade, marcada pelo consumismo, não deixa de ser alertada para quem vive ao lado, muitas vezes na exclusão, para lhe despertar a consciência que a vida só pode ser portadora de esperança e de alegria se se torna partilha em autêntica fraternidade.

De igual modo a cultura actual fechada num humanismo sem expressão da Transcendência, é desafiada a abrir-se para o futuro que liberta o presente e lhe dá sentido e por isso é interpelada a ver os sinais da presença de Deus na história dos homens.

Mas também, os cristãos e as comunidades cristãs são convidados a renovarem e a revigorarem as suas vidas na comunhão com Deus que toma a iniciativa de vir ao encontro dos homens e mulheres para lhes oferecer o sentido pleno para a existência humana que se reconhece e experimenta no amor vivido e partilhado.

É muito actual a expressão de Jesus de Nazaré que dirige aos seus contemporâneos e neles aos homens de todos os tempos quando afirma «Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância» (Jo.10,10).

Ao longo da história o principal problema da pessoa é a vida. Saber donde vem, para que se vive, para onde ela nos encaminha e como vivê-la com a plenitude de realização e de sentido.

Se a vida foi sempre uma questão aberta para o ser humano, então, deparamo-nos com a necessidade de encontrar n’Aquele que é o Senhor e autor da vida, a resposta a todas as questões que se colocam à pessoa sobre a sua realização e missão.

Tendo Deus falado de muitos modos, ao longo dos tempos, nos últimos falou-nos no Seu próprio Filho (cfr. Heb. 1, 1-2).

Este Menino que nos é apresentado no presépio é verdadeiramente o Filho de Deus que nos vem revelar não só a Deus, mas também o que o homem é em si mesmo, o sentido da sua existência, o valor da vida e o caminho do amor.

Para o ser humano que não sabe o que fazer com a vida, e por isso a maltrata, a desvaloriza, se apropria dela e se deleita em imprimir-lhe os sinais de morte, é urgente e imperioso conduzir a pessoa humana, em qualquer contexto cultural, religioso, social ou étnico para fazer o caminho até ao presépio onde se encontrará não só com a presença pessoal de Deus mas também com a resposta profunda embora velada ao sentido da existência humana.

Esta experiência foi feita pelos pobres pastores que na sua humilde fragilidade esperavam a libertação que Deus tinha prometido. Mas igualmente, foi feita pelo percurso dos homens da inteligência, da ciência e do conhecimento, que na época se inquietavam por obter respostas seguras para as suas interpelações.

Também hoje, o presépio onde encontramos a Palavra Eterna de Deus Encarnada na nossa história, na fragilidade de uma Criança, é o forte e surpreendente convite a todos para se encontrarem com a Fonte da Vida e n’Ela beberem da realização plena que se nos oferece.

Mas os peregrinos da primeira hora ensinam-nos que há algumas disposições para este encontro. Desde logo o despojamento e o deixarmo-nos desinstalar do nosso conforto pessoal, racional, religioso e emocional; encetar um caminho com a sua aridez e incómodo até chegar ao local do encontro; descobrir ao longo da caminhada os sinais de Deus que vêem da contemplação da natureza ou do clamor dos nossos contemporâneos; percorrer o caminho do amor, da entrega pessoal e da descoberta do outro como irmão.

No contexto de uma cultura de morte, numa sociedade que não sabe como viver a vida em plena realização, urge percorrer os caminhos que levam até Jesus de Nazaré para aprender a viver no Amor e fazer d’Ele uma missão permanente.

Deste modo, podemos oferecer esperança aos idosos, aos doentes, mesmo os que estão em maior sofrimento, aos excluídos da sociedade, aos pobres e aos abandonados, aos emigrantes e aos prisioneiros, porque o Amor é vida, é alegria, é esperança e é missão junto de todos os que imploram de nós os gestos concretos para saborearem nas Fontes da Vida a alegria plena.

Desejar a todos votos de um Santo e feliz Natal – aos idosos, aos doentes, aos emigrantes, aos prisioneiros, aos pobres e excluídos – é aprender junto do presépio o caminho do Amor que nos é oferecido por Deus e se revela em Jesus de Nazaré, o Menino que nasce na nossa humanidade, para o viver na entrega de todos e cada um de nós junto dos nossos irmãos.

Para todos os diocesanos, na Região Autónoma e na diáspora, um santo e feliz natal.

 

 

+ João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores