«Venerai a Cristo em vossos corações e estai sempre prontos a responder (…), com doçura e respeito, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança» (1Pe. 3,15)

Ao terminar a primeira reunião da Assembleia diocesana que integrava os membros do Conselho Diocesano de Pastoral e os membros do Conselho Presbiteral, no contexto da caminhada sinodal, dirijo-me a todos vós Povo de Deus da Diocese de Angra para convosco louvar o Senhor que pela acção do Espirito Santo deseja renovar a Igreja para ser testemunha do Seu Filho, Jesus Cristo, no contexto actual da nossa cultura e da nossa sociedade.

A expressão de comunhão eclesial que se alicerça na oração, na vivência eucarística e na partilha fraterna, tão fortemente vividas no decorrer dos trabalhos desta Assembleia; o desejo de aprofundar a realidade dos tempos em que vivemos e deixar-se interpelar para corresponder ao apelo de Jesus Cristo de propor vivencialmente o Evangelho aos homens e mulheres do nosso tempo; a ansia demonstrada de querer ser fiel a Cristo e na comunhão da Igreja para conduzir a vida das comunidades cristãs no sentido de dialogar com o mundo de hoje e acolher os pobres e os excluídos; são motivos para darmos graças a Deus pela manifestação da Sua misericórdia e ternura para com o Seu Povo.

Em clima de esperança que só nos pode vir da comunhão com Jesus Cristo, foi realçada a necessidade de nos propormos evangelizar auscultando todos os nossos irmãos sejam os que integram as nossas comunidades cristãs sejam os que estão fora para que no discernimento evangélico dos seus apelos possamos edificar uma comunidade em que todos os baptizados se sintam participantes activos da missão da Igreja mas também convocados a ser discípulos missionários numa Igreja em saída, tal como nos tem interpelado o Santo Padre o Papa Francisco.

No decorrer desta Assembleia amadureceu-se a consciência que a Igreja no mundo de hoje tem de ser sinodal. Não se ignorou que esta mudança exige conversão pessoal, comunitária e pastoral; é uma caminhada que exige tempo e persistência; contudo, estamos conscientes que é esta a Igreja, Povo de Deus, que melhor testemunha o Evangelho de Jesus Cristo na nova fase da história.

Esteve muito presente a situação presente de pandemia, não só pelos desafios imediatos que coloca às nossa comunidades cristãs, mas na sua implicação decisiva no ressurgir de um mundo novo, de uma nova cultura e nova civilização. Sentiu-se vivamente a actualidade do desafio a uma nova evangelização.

A riqueza do trabalho de reflexão, de esperança e de abrir caminhos para o futuro presentes nesta Assembleia não seria possível sem o esforço de reflexão e de renovação já a florescer em inúmeros grupos, movimentos e pessoas de boa vontade, de comunidades religiosas, serviços diocesanos, conselhos pastorais paroquiais e de ouvidoria, jovens e adultos, famílias e mesmo idosos. Fica o nosso reconhecimento e a certeza de que é neste esforço comum que podemos ultrapassar os obstáculos sempre teimosos em impedir a verdadeira renovação evangélica das comunidades cristã e a evangelização do mundo actual.

No decorrer dos trabalhos da nossa Assembleia, tivemos a graça de receber a publicação da Enciclica «Todos Irmãos» do Papa Francisco. Nela se reflecte a comunhão, a fraternidade e o amor fraterno como fundamento para o ser e para o actuar na Igreja e na sociedade. Aí se diz que «isolamento e o fechamento em nós mesmos ou nos próprios interesses nunca serão o caminho para voltar a dar esperança e realizar uma renovação, mas é a proximidade, a cultura do encontro» (nº 30).

E, num outro passo refere que «o que conta é gerar processos de encontro, processos que possam construir um povo capaz de recolher as diferenças» (nº 217). Daí o desafio lançado pelo Papa: «armemos os nossos filhos com as armas do diálogo! Ensinemos-lhes a boa batalha do encontro!» (nº 217).

Este trabalho pastoral de renovação, em caminhada comum, auscultando e dialogando com mundo de hoje, provocando a conversão missionária das comunidades cristãs, vai continuar. Isto mesmo ficou patente nas aspirações de todos os membros da Assembleia e penso que está presente na diversidade das nossas comunidades, movimentos e instituições.

Igreja evangelizadora, à maneira de Jesus Cristo e segundo os apelos do Concilio Ecuménico Vaticano II, foi a prioridade, muito acertada, dada pelos membros da Assembleia para auscultar e dialogar com a cultura de hoje, testemunhar o Evangelho na sociedade actual e construir comunidades cristãs participativas na missão da Igreja.

Verdadeiramente o agente evangelizador é a comunidade cristã.

Estamos todos convocados para continuar a edificar a Igreja renovada com rosto sinodal.

No inicio do tempo de Advento daremos inicio à nova fase desta caminhada sinodal. Então, serão apresentadas as orientações para a vivência e para a reflexão que a todos é pedida.

Tal como o profeta Isaias, também nós hoje, apoiados na Revelação de Deus que ama o Seu Povo, poderemos exclamar: «eis que vou realizar uma obra nova, a qual já começa. Não a vedes?» (Is. 43, 19).

Colocamos este nosso trabalho pastoral sob a protecção e intercessão de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores e do Beato João Baptista Machado, nosso Padroeiro.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores