Igreja de Santa Cruz, 16 de novembro de 2025
Saúdo os párocos, CML, os órgãos sinodais: CP’s, CE’s, e todos os leigos seja os empenhados nas diversas tarefas paroquiais, seja no testemunho laical no mundo.
No Evangelho de hoje, vimos os discípulos a admirar a arquitetura do templo, podemos dizer, contentes com o que vêm, desejosos de conservar o que têm. Os olhos de Jesus vão além: ele vê a destruição de Jerusalém, os cataclismos naturais, os sinais do céu, as perseguições à Igreja e o aparecimento de falsos profetas. Ele vê os sinais da decomposição do velho mundo marcado pelo pecado e pelas dores do parto de novos céus e de uma nova terra. Deixo uma questão: estamos na fase da conservação do que temos, ou a perscrutar os sinais novos para lhes dar resposta?
Maravilhamo-nos com projetos fantásticos, com as tecnologias, os robots e a inteligência artificial; orgulhamo-nos de gente de sucesso e dos golos de Cristiano Ronaldo. Mas, lembramo-nos que tudo é passageiro e que não há nada terreno que seja eterno? Só o homem, imagem de Deus, é eterno. É melhor, então, que tudo desmorone, incluindo as igrejas mais bonitas, do que desmorone um único homem, diz o evangelho.
O Lema do primeiro ano do nosso Projeto de Pastoral é: “cristão que dizes de ti mesmo”? Poderia também ser: que dizem de mim, de ti, da forma como atuamos e vivemos na comunidade? Somos credíveis e fazemos a diferença nas Celebrações como na atenção aos pobres e frágeis? Assumimos uma cultura centrada na pessoa humana, integradora de todos e capaz de ir em busca de quem está nas periferias? Está a nossa paróquia e Ouvidoria aberta e refletir e seguir caminhos mais sinodais, mais participativa na Igreja para levar o Evangelho à vida e causas públicas?
Nem de propósito, hoje é o Dia Mundial do Pobre e, em Roma, decorre o Jubileu dos Pobres, com 12 idos dos Açores. “Não te esqueças dos pobres!” tinha sussurrado ao ouvido um cardeal ao recém-eleito Papa Francisco. E se os pobres se tornaram a opção preferencial da Igreja no pontificado de Francisco, também agora, com o Papa Leão XIV, os pobres não são esquecidos. Ele escreve na sua mensagem: «este dia quer recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a ação pastoral» (n. 5). Convida-nos a olhar os pobres olhos nos olhos — não como uma categoria abstrata, mas como rosto concreto de Deus e medida do verdadeiro amor. O cuidado com os mais pobres — assistência aos doentes, luta contra a escravatura, direito ao ensino, apoio e proteção aos migrantes, às mulheres, aos marginalizados e às vítimas de todas as formas de violência merecem a sua atenção e continua: “O cristão não pode considerar os pobres apenas como um problema social: eles são uma questão familiar. Eles são dos nossos”. “A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual” (Papa Francisco). E afirma “Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados”.
O Evangelho lembra ainda que estamos num cume íngreme da história, em equilíbrio, à procura de um rasto: de um lado, o lado sombrio da violência; do outro, a ternura que salva, uma terra de paz onde «nem um fio de cabelo» se perderá. As pressões sofridas no mundo e na Igreja, não devem ser vistas como tragédias sombrias, mas purificadoras da nossa fé. São oportunidades para testemunhar Cristo Salvador. Caso contrário, o mundo não conhecerá o seu Evangelho nem a força do seu amor. virão os falsos profetas que, aproveitando-se das diferenças e conflitos quererão ganhar adeptos para as suas ideologias, aproveitando os medos. Sabemo-lo bem! É preciso decidir: evangelho ou ideologia? Integração ou exclusão? O amor ou a indiferença?
No evangelho, a cada descrição de tragédia segue-se um ponto de rutura, em que tudo muda. E isso acontece sempre que cuido de um pedacinho da minha terra e das suas feridas. A partir do meu pequeno metro quadrado. Basta perseverar, indo até ao fim de uma ideia, de uma intuição, de um serviço, desembocando assim na verdade da vida: cada ato humano perfeito aproxima-nos do absoluto de Deus. Isto vale também para a ação organizada na Igreja, numa paróquia ou Ouvidoria.
Parabéns pela vossa Ouvidoria da Lagoa e seus 40 anos! Que seja um dia para pensar neste espaço onde se caminha juntos, irmãos ao lado de irmãos. A paróquia é uma realidade existencial, mais que geográfica, pedindo colaboração entre paróquias, suas pessoas e estruturas. Nela reconstruimos proximidades perdidas na complexa trama do mundo contemporâneo, afirmamos a transcendência do ser humano, a sua dignidade, a sua liberdade e a sua vocação para a comunhão.
O Concílio Vaticano II afirmou o protagonismo dos leigos na vida da Igreja. O leigo cristão deixou de ser um simples «colaborador» do sacerdote, mas sujeito pleno da missão eclesial. Vive no mundo, mas não se confunde com ele. Leva o Evangelho para dentro da história concreta, aos locais de trabalho, da cultura, da política, da economia e hoje também da tecnologia e do ambiente digital.
Fomos todos “batizados na esperança” como intitulei a minha Carta Pastoral para estes 3 primeiros anos dos 9 que nos levarão até 2034. Onde está um cristão deve nascer a esperança, mesmo contra a corrente do mundo. Para tal, propõe-se que este ano se dê um impulso aos Conselhos Pastorais, tornando-os obrigatórios em todas as paróquias. Cada membro destes conselhos deve procurar formação contínua que o prepare para desempenhar adequadamente as suas tarefas pastorais no grupo que ali representa e ajudar o todo da paróquia a ler e estudar as necessidades para darem respostas conjuntas. A formação não pode ser só a catequese até ao crisma. O mundo é exigente e Cristo preparou os discípulos até ao fim.
Destaco 3 pontos: tornar forte e visível a unidade e colaboração a partir dos Conselhos de Pastoral da paróquia e da Ouvidoria; formação pessoal e comunitária: nos CPB’s, criando a Escola de formação da Ouvidoria e preparando a participação na Escola de Formação Diocesana; ler as novas pobrezas nesta Ouvidoria e discernir que respostas lhes podeis dar em conjunto e em diálogo com as instituições públicas ou privadas existentes.
Mas, quando o Senhor vier, ainda encontrará fé na terra? Não diz: encontrará ainda paróquias, Ouvidorias, unidades pastorais, dioceses, mas fé. Encontrará fé que acredite que o amor e a beleza são mais fortes do que a maldade, que a justiça é mais saudável do que o poder? Pessoas que acreditam que esta história não terminará no caos ou no nada, mas num abraço? Um abraço que se chama «Deus»?
No final, Senhor, ajuda-me a não pensar que é o fim. O mundo não está a precipitar-se para o caos, mas para os teus braços, para o abraço infinito e definitivo do amor.