Igreja de Nossa Senhora Conceição.

S. Paulo na segunda leitura dirigindo-se á comunidade de Éfeso exalta a dignidade humana quando diz que Deus «nos escolheu antes da criação do mundo a fim de sermos na caridade santos e irrepreensíveis diante dEle». E, mais ainda, destinou-nos «mediante Jesus Cristo para sermos seus filhos adoptivos».

Quando hoje nos colocamos perante Maria Santissima, toda Imaculada desde a sua concepção, e sobretudo nos sentimos interpelados pela saudação do Anjo «Salvé, ó cheia de Graça», reconhecemo-nos a todos nós, comunidade cristã, mas também toda a humanidade, a atingir o fim último para que fomos criados: ser santos, viver a plenitude da vida de Deus em nós.

Perante Nossa Senhora, reconhecemos que a criação, embora sujeita ao pecado e ao mal, alcançará a sua plena realização quando Jesus Cristo se manifestar como o redentor de todas as criaturas. Mas para isso, Deus convida Maria de Nazaré e convida-nos a cada um de nós pessoal e comunitariamente a empenharmo-nos e a colaborarmos na Sua obra redentora.

A «Cheia de Graça», envolvida no amor de Deus, dá-nos o testemunho autêntico de como deve ser sentida a humanidade nas suas debilidades, nas suas limitações, nos seus anseios e nas suas esperanças. Só o amor dá razão de ser e orienta todas as situações humanas no verdadeiro sentido da dignidade do ser humano. Mas o amor impele cada um a sentir-se corresponsável pela sorte do seu irmão.

Isto aconteceu em Maria de Nazaré que, envolvida na plenitude do amor divino, exclama: «faça-se em mim segundo a tua palavra».

Eis o convite para cada um de nós, cristãos que sintonizamos com os sofrimentos da humanidade de hoje, que temos presentes em nós os anseios e as desilusões de homens mulheres do nosso tempo, que nos confrontamos com franjas marginalizadas da nossa sociedade, «faça-se em nós a tua palavra».

Só a partir desta disposição e deste compromisso contemplamos em Maria de Nazaré a humanidade reconduzida ao sonho originário de Deus que criando o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança, criou-o para ser feliz, para fazer deste mundo paraiso.

Este mundo através do testemunho evangélico, pela vivência do amor e pela relação em comunhão entre todas as criaturas, o mundo aspirará a ser um novo céu e uma nova terra.

A Palavra de Deus e a solenidade da Imaculada Conceição, despertam três sentimentos que são ao mesmo tempo desafios: esperança, acção de graças e alegria e, por último compromisso.

Esperança, porque apesar do mal e do pecado, Deus deixa a promessa da vitória do amor, da justiça e da paz. Apesar de todo o sofrimento e mal estar, da perplexidade e das angústias do tempo presente, Deus não abandona o seu povo e coloca no nosso meio pessoas que testifiquem o seu grande amor pelos seus filhos.

Acção de graças e alegria que provem do facto de nos reconhecermos agraciados pelo amor de Deus deste toda a eternidade e que o Senhor tem para as suas criaturas um desígnio de misericórdia e de bondade. Não poderá haver maior alegria que reconhecermos a nossa condição de filhos de Deus.

Mas tudo o que Deus quer realizar no mundo e na história exige o compromisso e o testemunho autênticos de cada um pessoal e comunitariamente.

A comunidade cristã é a experiência da nova humanidade redimida por Jesus Cristo e enviada a testemunhar a vida nova ao mundo onde vive. A esperança e os sonhos da humanidade encontrarão na comunidade cristã o sinal verdadeiro e concretizado da intervenção de Deus no meio dos homens.

Por isso, Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa Mãe, é também a Mãe e modelo da Igreja peregrina no meio das vicissitudes da história e no meio das perplexidades deste mundo.

O Faça-se de Nossa Senhora é depositado em nós e na comunidade cristã com o compromisso de renovar este mundo onde vivemos.

+João Lavrador, Bispo Coadjutor