Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Purificação. Santo Espírito. Santa Maria.

Senhor Núncio Apostólico em Portugal

Senhor Provincial dos Padres Dehonianos

Senhor Pároco de Santo Espírito

Senhores padres diocesanos e confrades de D. António

Irmãos e demais familiares do Senhor Dom António

Queridos fiéis, leigos de Santa Maria

 

Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores

Senhora Secretária Regional da Educação e Assuntos Culturais, em representação do Senhor Presidente do Governo Regional

Senhora Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto

Senhores deputados à Assembleia da República e à Assembleia Regional

Autoridades autárquicas e militares

Representantes do associativismo da ilha de Santa Maria

 

A pedido do Senhor Presidente da Conferencia Episcopal Portuguesa e do Senhor Núncio Apostólico, cumpre-me dirigir a palavra à assembleia crente e amiga do Senhor Dom António, por ocasião da sua páscoa, nesta igreja de Nossa Senhora da Purificação em Santo Espírito, terra onde nasceu, cresceu e tanto amou ao longo da sua vida.

A presença do Senhor Núncio Apostólico honra-nos muitos, não só porque o senhor arcebispo é o representante diplomático do Santo Padre em Portugal, como também representa neste ato a Conferencia Episcopal Portuguesa, Colégio dos Bispos em Portugal, a que o Senhor Dom António pertencia desde 1996., e ainda mais quando a diocese de Angra carece de um bispo próprio, o senhor oferece seu ministério episcopal numa sede vacante, agora ainda mais e duplamente vacante, com a partida do nosso querido bispo emérito.

A presença dos senhores padres dehonianos representa a gratidão e a continuidade da missão de um antecessor vosso que em 1954 veio precisamente aqui buscar o jovem António para o Seminário do Funchal com mais dois companheiros. A diocese de Angra agradece a Deus e à vossa congregação tudo o que deram – e certamente receberam – sobretudo nos últimos seis anos após a resignação de D. António como bispo diocesano.

A Diocese de Angra agradece ao Senhor João de Sousa Braga e à Senhora Dona Maria Leandres Braga, a quem Deus já chamou a si, e aos seus nove irmãos, uns entre nós, outros emigrados e outros já falecidos, este filho e irmão que deram à Igreja e ao Mundo. Dom António era um homem de Santo Espírito e da ilha de Santa Maria, mas que vai muito além desta terra. Como bispo de Angra é um homem dos açorianos no seu todo.

A presença dos senhores padres diocesanos, ainda que em número reduzido, devido ao lugar da celebração, representa todo o nosso presbitério que gostaria de estar aqui presente, sobretudo os mais de cinquenta padres que Dom António ordenou bem como os mais velhos que com ele tão intimamente cooperamos.

Na realidade esta celebração exequial do bispo diocesano deveria ocorrer na sua catedral em Angra, mas dificuldades de transportes civis e militares em garantir uma data de chegada dos restos mortais do Senhor Dom António a Santa Maria, levaram-nos a fazer a deslocação diretamente de Lisboa para Santa Maria, uma vez que a família decidiu ser aqui a sepultado, para voltar à terra materna de onde foi tirado.

Na verdade, é uma exceção, pois é da nossa tradição que os bispos fiquem sepultados na sua catedral ou em Angra ou no cemitério de Nossa Senhora do Livramento, tal como outro bispo filho desta terra, antigo Vigário geral de Angra, e depois nomeado bispo do Funchal, Dom Luiz Figueiredo de Lemos, se encontra sepultado na catedral daquela diocese insular.

Como bispo, na conferência episcopal, Dom António foi um homem da Igreja em Portugal e da Igreja Universal. Como religioso, de uma congregação que está presente em quase todo o mundo, e pelas funções de governo que nela exerceu, era um homem do mundo.

A presença das excelentíssimas autoridades civis e miliares representa o reconhecimento da missão da Igreja a favor do bem comum, do mesmo povo que nos cabe servir e fazer feliz. Vossas excelências representam o povo açoriano que Dom António tanto amou, serviu e ajudou a unir.

Relativamente a esta presença e relacionamento com a sociedade civil, cito a mensagem que o Município de Angra do Heroísmo nos dirigiu nesta hora registando «o valioso legado deixado pelo bispo emérito de Angra na comunidade açoriana disseminando os valores do humanismo e da solidariedade por toda a Região e unindo o povo de todas as ilhas».

Se Dom António estivesse agora na pregação diria o essencial, o anúncio do evangelho: «Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia». Cristo dirigindo-se a todos diz-nos no evangelho deste dia: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me, pois, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á». Como esta máxima se aplica bem ao defunto. Mais do que chorar a morte de D. António, sabemos que o grão de trigo se não for lançado à terra não produz fruto, mas se for, produzirá muito fruto.

A sua vida foi uma sementeira constante, em casa em Santa Maria, no Seminário na Madeira, como formador e professor em tantas cidades de Portugal, onde foi provincial da sua Ordem; em Roma como Vice Superior Geral da sua Congregação e como Bispo dos Açores, ao longo de vinte anos. É o bastante para reter o testemunho da sua vida, vocação e opções. Um desafio aos jovens dos Açores, na universalidade que hoje conhecemos e onde nos movemos. O senhor bispo perguntava tantas vezes: «como anunciar o evangelho que não muda num mundo sempre em mudança», e respondia «só mudando.», isto é, só nos convertendo.

Do Colégio dos Bispo de Portugal registo este testemunho: «Entre nós permanecerá para sempre o seu exemplo de humildade e simplicidade, de bondade e bem, de proximidade e solidariedade, de forte sentido de oração e oblação, de serenidade e paz interior, de olhar atento aos mais pobres e descartados, de cuidado extremoso para com todos sem exceção, de amor à Igreja e à Congregação, de vida de comunhão com Cristo e vida fraterna em comunidade, de vivencia dos ventos novos do Concílio Vaticano II, de sintonia com o magistério da Igreja, de envolvência sinodal nas decisões tomadas e de dedicado empenho no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa. Tudo isto, e muito mais, marcou a vida de D. António, não em belas teorias e princípios que bem conhecia e aprofundava, mas em intenso anúncio evangelizador e silencioso testemunho de vida».

Não podemos esquecer, no quadro da sucessão apostólica na Igreja, e na nossa Diocese em particular que, faz hoje precisamente dez anos que faleceu Dom Aurélio Granada Escudeiro, 37º- bispo de Angra que havia ordenado a 30 de junho de 1996 D. António como bispo para os Açores. Tal como se sucederam na terra no ministério episcopal, cremos que o tempo do serviço e do ministério acabou, e que agora vivem na comunhão dos santos, com o «tio Braga santo» também aqui sepultado e com todos os santos cujos nomes não conhecemos.

Das suas últimas palavras guardo esta oração: «Eu sou uma graça de Deus. Dou graças ao Senhor pelo dom da vida, por tudo o que me deu. Jesus, o meu Senhor, o meu único Senhor, que não pode ter concorrentes. A Eucaristia é o centro do meu dia. O caminho de Cristo é o meu caminho. Sem Ele nada posso fazer. Sou servidor de todos, por ser servo de Deus. Acolho o mais maravilhoso dos tesouros, o coração de Jesus». É este coração de Jesus que nos diz: «Vinde a Mim todos vós que andas cansados e oprimidos. Aprendei de Mim que sou manso e humildade de coração e encontrareis alívio para a vossas almas». Assim seja.

Hélder, Administrador Diocesano de Angra