Sé. Angra.

«Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas, e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder.  Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos». E acrescenta-se «porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».

Estas palavras com as quais Jesus de Nazaré oferece aos seus discípulos os critérios que orientarão a vida dos baptizados, são para nós hoje as mesmas palavras que nos indicam o itinerário a seguir para participarmos ativamente na vida e na missão da comunidade cristã.

Há um convite à purificação permanente dos nossos critérios e objetivos. Sim, imersos no meio do mundo, somos chamados a testemunhar perante a cultura em que vivemos a renovação pessoal e comunitária que nos vem da nossa imersão no mistério Pascal de Jesus de Nazaré.

Na verdade, nesta celebração com a qual damos inicio ao novo ano pastoral que a nível da nossa diocese sente o duplo desafio; primeiro a dar continuidade à caminhada sinodal que já nos acompanha e dinamiza há três anos; o segundo, a introduzir e corresponder ao apelo do Papa Francisco em inserirmos nesta mesma caminhada sinodal o dinamismo universal que se quer para toda a Igreja ao apresentar o próximo sínodo dos Bispos que versará sobre «sinodalidade na Igreja: comunhão, participação e missão».

Perante este desafio diocesano e agora também do Papa Francisco, não poderemos deixar de nos interrogar sobre o que Jesus de Nazaré afirma perante os Apóstolos: «podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o baptismo com que Eu vou ser baptizado?».

Com estas palavras, Jesus de Nazaré convida a percorrer o itinerário pascal juntamente com Ele de modo a sentirmo-nos transformados e renovados para nos decidirmos a participar ativamente na comunidade dos que vivem em comunhão com Deus e com os irmãos e assumirmos a missão de testemunharmos a Jesus Cristo, a Boa Noticia, para o mundo.

Perante a nossa resposta, tal como afirmaram os Apóstolos, «podemos», manifestamos a nossa disposição para edificarmos uma Igreja de rosto sinodal.

Permitam-me que nesta celebração cite um conjunto de afirmações do Santo Padre que ele mesmo dirigiu à diocese de Roma em Setembro passado, acerca da caminhada sinodal.

Reafirmando que com a denominação de sínodo, ou sinodal, quer-se afirmar que urge caminhar em conjunto, apela a que todos os baptizados participem ativamente na vida e na missão da comunidade cristã. Ninguém pode ficar de fora

Daí, resulta que a caminhada sinodal deve primar pela escuta. Escuta de Deus, escuta de todos os membros da comunidade e mesmo a escuta dos que estão fora da Igreja mas interessados na construção do Reino de Deus.

Não se trata de escutar opiniões, diz o Santo Padre, mas sim de «escutar o Espirito Santo, tal como encontramos no livro do Apocalipse: “quem tem ouvidos oiça o que o Espirito diz às Igrejas”». E, acrescenta-se «trata-se de escutar a voz de Deus, perceber a Sua presença, intercetar a Sua passagem e o Seu sopro de vida».

Se nos dispusermos a tal escuta, saborearemos como o profeta Elias as surpresas de Deus.

Segundo as palavras do Santo Padre, «a sinodalidade exprime a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão», e por isso, «todos são protagonistas, ninguém pode ser considerado um simples figurante».

A sinodalidade deve provocar, à luz do Espirito Santo, um verdadeiro processo de discernimento, a verdadeira crise que conduz à ousadia de caminhos novos, a questionar, a reconsiderar, talvez a cometer erros mas sobretudo a aprender com eles, e, a ter esperança apesar das dificuldades.

Perante a afirmação de que «o cristianismo deve ser sempre humano, humanizante, conciliando diferenças e distâncias e transformando-as em familiaridade, em proximidade», o Papa Francisco, denuncia, como um dos maiores males da Igreja o clericalismo, a que denomina de perversão porque «separa o padre, o bispo do povo».

De facto, «quando a Igreja, pelas suas palavras e ações, é testemunha do amor incondicional de Deus, da Sua amplitude hospitaleira, ela exprime verdadeiramente a sua própria catolicidade».

Somos uma Igreja peregrina na qual «os pastores caminham com o povo». Como afirma o Santo Padre, ora à frente, ora no meio, ora atrás.

Igreja em caminhada sinodal, com rosto de Povo de Deus, cujos membros são dignos pela sua condição de baptizados e cada um participante a seu modo da missão da Igreja, é também uma comunidade que dá espaço ao diálogo sobre as suas misérias, das suas dificuldades e que acolhe preferencialmente os mais excluídos e marginalizados da sociedade.

Por último, o Papa Francisco apela ao diálogo sereno e construtivo. Diz ele: «não tenhais medo e deixai-vos inquietar pelo diálogo: é o diálogo da salvação».

Aliás, a partir do diálogo «preparai-vos para as surpresas».

Ao longo deste ano pastoral, convocando todos os baptizados e mesmo pessoas de boa vontade, iremos continuar a caminhada sinodal refletindo sobre a Igreja missionária e Igreja pobre com os pobres; incluiremos a reflexão que nos chega de preparação para o Sínodo dos Bispos de 2023; integraremos os jovens que preparam as Jornadas mundiais de Lisboa/2023.

É um ano pastoral que apesar da mudança de pastor diocesano, se apresenta muito rico e pleno de desafios. Assim nós saibamos corresponder-lhes.

Na homilia da celebração eucarística que deu início à caminhada sinodal, o Santo Padre apresentou o Sínodo como encontro, escuta e discernimento.

Daí que, a exemplo de Jesus de Nazaré, iniciarmos este caminho, afirma o Papa que «somos chamados a tornar-nos peritos na arte do encontro»; e acrescenta-se «um verdadeiro encontro só pode nascer da escuta». Aliás, «fazer Sínodo é colocar-se no mesmo caminho do Verbo feito homem: é seguir as Suas pisadas, escutando a Sua Palavra juntamente com as palavras dos outros». Mais ainda, «é descobrir, maravilhados, que o Espírito Santo sopra de modo sempre surpreendente para sugerir percursos e linguagens novos».

Concluindo, «o encontro e a escuta recíproca não são um fim em si mesmos, deixando as coisas como estão. Pelo contrário, quando entramos em diálogo, pomo-nos em questão, pomo-nos a caminho e, no fim, já não somos os mesmos de antes, mudamos».

Deste modo, «o Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, de discernimento eclesial, que se faz na adoração, na oração, em contacto com a Palavra de Deus».

Dirijo-me a vós jovens! Preparai bem as Jornadas Mundiais de Lisboa/2023, abraçai todos os jovens da vossa convivência para lhes manifestar na alegria o amor de Jesus de Nazaré e implicai-vos na renovação das vossas comunidades cristãs. Vós não sois só o futuro da Igreja mas sim já o seu presente!

A caminhada sinodal exige a vossa participação ativa na vida e na missão da Igreja.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, S. José Seu Esposo e do Beato João Baptista Machado nosso padroeiro que nos abençoem e acompanhem nesta caminhada de Povo de Deus chamado a viver na comunhão e a corresponsabilizar-se na missão da Igreja.

Ámen.

 

+João Lavrador, Administrador Diocesano de Angra