Igreja Paroquial de São Pedro. Ribeirinha. Terceira.

         Neste quarto domingo pascal celebramos a riqueza da experiência de Jesus Cristo ressuscitado, que se apresenta como o Bom Pastor, Aquele que dá a vida pelas suas ovelhas, que é a porta pela qual entram aqueles que escutam a Sua voz. Mas é também o dia de reflexão, de oração e de compromisso pelas vocações consagradas. E temos a graça de celebrar a instituição no ministério de Acólito de três irmãos nossos, dois que se dirigem para a ordenação de diáconos e um, se Deus assim o permitir, orientado para a ordenação de diácono e de presbítero.

         Acabámos de escutar no Evangelho Jesus a afirmar que é a porta pela qual entram as ovelhas que O conhecem, ouvem a Sua voz, chama-as e elas seguem-No porque Ele caminha à sua frente.

Jesus Cristo Ressuscitado é na verdade a porta de entrada de todo aquele que deseje conviver com Ele, fazer a experiência de intimidade com o Mestre e participar da Sua vida. Torna-se necessário escutar a Sua voz que chama cada um a segui-Lo.

Eis o itinerário de vida cristã assente na convicção e na experiência de Jesus Cristo Ressuscitado.

Já na primeira leitura, o Apóstolo Pedro, falando ao povo oferecia uma caminhada de vida cristã que nos importa reter. Começa pela proclamação da páscoa de Jesus de Nazaré e pela afirmação peremptória de que a sua entrega e crucifixão se deve a todos nós culminando na reacção do povo que terá de ser igualmente a nossa atitude. Daí a questão «que devemos fazer irmãos?».

A resposta é a única que a Igreja é chamada a proclamar ao longo de todos os tempos e por isso também no nosso: arrependei-vos, cada um receba o baptismo e o dom do Espirito Santo.

Diz-nos ainda a leitura sagrada que fizeram a experiência de salvação perante uma sociedade depravada e corrompida, integrando uma comunidade que vive a liberdade dos filhos de Deus.

Pedro refere esta acção salvífica da páscoa de Jesus Cristo ao dizer que «foi pelas Suas chagas que fostes curados», e mais ainda «éreis como ovelhas tresmalhadas, mas agora voltastes para o Pastor e Guardião das vossas almas».

Importa reflectir profundamente sobre o itinerário que nos é proposto para caminharmos numa experiência verdadeira de vida cristã. Ela só poderá acontecer se escutarmos o apelo de Jesus Cristo e se despertar em nós o arrependimento e o desejo de seguimento.

Nós seguimos a Jesus de Nazaré e não qualquer ideia. O seguimento de Jesus implica uma adesão a Ele, uma convivência com Ele e aceitar o dinamismo da missão que d’Ele provem.

São bem eloquentes as palavras do Papa Francisco que ele dirige na sua mensagem para este dia mundial de oração pelas vocações quando diz que «quem se deixou atrair pela voz de Deus e começou a seguir Jesus, rapidamente descobre dentro de si mesmo o desejo irreprimível de levar a Boa Nova aos irmãos, através da evangelização e do serviço na caridade». Por isso, «todos os cristãos são constituídos missionários do Evangelho». E, acrescenta sublinhando que «o discípulo não recebe o dom do amor de Deus para sua consolação privada; não é chamado a ocupar-se de si mesmo nem a cuidar dos interesses duma empresa; simplesmente é tocado e transformado pela alegria de se sentir amado por Deus e não pode guardar esta experiência apenas para si mesmo: “a alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária”».

Entrar no coração de Jesus o Bom Pastor que chama e acolhe é colocar-se numa atitude de confiança apesar das dificuldades e das limitações pessoais. Como diz o Santo Padre, «a nossa confiança primeira está aqui: Deus supera as nossas expectativas e surpreende-nos com a sua generosidade, fazendo germinar os frutos do nosso trabalho para além dos cálculos da eficiência humana».

Daí que «não poderá jamais haver pastoral vocacional nem missão cristã, sem a oração assídua e contemplativa. Neste sentido, é preciso alimentar a vida cristã com a escuta da Palavra de Deus e sobretudo cuidar da relação pessoal com o Senhor na adoração eucarística, ”lugar” privilegiado do encontro com Deus».

Confortados e iluminados pela oração insistente perante o Senhor da Messe reconhecemos que «é possível ainda hoje voltar a encontrar o ardor do anúncio e propor, sobretudo aos jovens, o seguimento de Cristo».

Assim, como refere o Santo Padre, «face à generalizada sensação duma fé cansada ou reduzida a meros “deveres a cumprir”, os nossos jovens têm o desejo de descobrir o fascínio sempre atual da figura de Jesus, de deixar-se interpelar e provocar pelas suas palavras e gestos e, enfim, sonhar – graças a Ele – com uma vida plenamente humana, feliz de gastar-se no amor».

Carissimos irmãos que agora vos apresentais para receberdes de Deus as graças para desempenhardes bem o ministério de Acólitos. Ireis servir ao altar do sacrifício eucarístico e ireis tocar com as vossas mãos e com o vosso coração o Corpo de Cristo para O levardes aos nossos irmãos.

Conformai a vossa vida com o serviço que vos dispondes a realizar. Imitai Aquele que através de vós chega ao coração dos irmãos e aprofundai em vós a atitude de adoração a Jesus Cristo presente na Eucaristia.

Jesus, o Bom Pastor, que dá a vida pelas Suas ovelhas chama a saborear da Sua intimidade através da Palavra, da Oração e dos Sacramentos, e uma vez de coração transformado e inflamado pelo Seu amor, enviados ao encontro dos homens e mulheres que têm fome de Deus, tantas vezes sem o saberem.

Ainda há muitos que não conhecem a voz de Jesus de Nazaré e por isso andam a seguir outros. O Bom Pastor é um só, Jesus Cristo que na Sua Páscoa se oferece por toda a humanidade de todos os tempos de modo a que haja um só rebanho e um só Pastor.

Faz parte da nossa missão testemunhar a vida abundante que Jesus Cristo nos oferece.

Pertence-vos a vós, instituídos no ministério de acólitos, valorizar este serviço litúrgico de modo a que muitos jovens e mesmo adultos queiram oferecer-se no serviço do altar, saboreando a riqueza da graça que o manancial de vida que brota da Eucaristia oferece a todo aquele que dele se aproxima.

É esta a verdadeira pastagem de que nos fala o Evangelho e à qual Jesus nos conduz.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, que vos conceda a graça de saborear os dons que o Senhor através deste ministério vos oferece e vos acompanhe sempre no desempenho da vossa missão.

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores

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