Capela da Natividade. Seminário Episcopal. Angra.

Estamos a iniciar um novo ano e fazemo-lo sob a invocação do Espirito Santo. Na verdade, a esperança autêntica que brota da comunhão profunda com Jesus Cristo é fruto da acção do Espirito Santo em cada baptizado. Só Ele nos conduz para o centro e fundamento da nossa existência.

Cada ano que começa é uma nova etapa que se traduz na esperada renovação. E, é isso mesmo que nós pretendemos: que este ano seja novo, suscite novas energias e nos faça alcançar os objectivos que nos são traçados para a nossa caminhada como comunidade em permanente crescimento, centrada em Jesus Cristo, partilhando os dons pessoais e deixando-se converter pela acção do Espirito Santo em cada um dos seus membros.

O Seminário Maior recolhe da pessoa de Jesus Cristo e da Sua forma de estar com os Seus Apostolos o modo de responder à sua missão.

O chamamento que Jesus de Nazaré faz aos Seus Apóstolos, o convite a permanecerem com Ele, a Sua atitude de Mestre com a qual compartilha com eles toda a Sua vida, as experiências apostólicas e o envio em missão, são os autênticos ingredientes da formação na comunidade educativa do Seminário Maior.

Os três anos que os Apóstolos passam com Jesus de Nazaré, como escutam e interiorizam a Sua Palavra, como se maravilham com os gestos reveladores do poder salvífico de Deus, como a sua conversão passa da perplexidade para a confiança do amor do Mestre, como participam do Seu mistério pascal e pela acção do Espirito Santo são conduzidos para a verdade total e orientados para a missão de testemunhas da Vida Nova da qual são portadores, são inspiradores para a vida do Seminário Maior.

Na Pastores Dabo Vobis, S. João Paulo II, num dado passo afirma que «na sua solicitude relativamente às vocações sacerdotais, a Igreja de todos os tempos inspira-se no exemplo de Cristo» (nº 42).

E, citando a declaração dos Padres Sinodais, sublinha que «viver em seminário, escola do Evangelho, significa viver o seguimento de Cristo como os apóstolos, significa deixar-se iniciar por Ele no serviço do Pai e dos homens, sob a orientação do Espírito Santo; significa deixar-se configurar a Cristo Bom Pastor, para um melhor serviço sacerdotal na Igreja e no mundo» (nº 42).

Assim, «formar-se para o sacerdócio significa habituar-se a dar uma resposta pessoal à questão fundamental de Cristo: ‘Tu amas-me?’. A resposta, para o futuro sacerdote, não pode ser senão o dom total da sua própria vida» (nº 42).

No que diz respeito ao Seminário Maior, o referido documento afirma que este «apresenta-se como um tempo e um espaço; mas configura-se sobretudo como uma comunidade educativa em caminhada: é a comunidade promovida pelo Bispo para oferecer, a quem é chamado pelo Senhor a servir como os apóstolos, a possibilidade de reviver a experiência formativa que o Senhor reservou aos Doze»(nº 60).

E, acrescenta que «na realidade, uma prolongada e íntima permanência de vida com Jesus é apresentada no Evangelho como premissa necessária para o ministério apostólico» (nº 60).

Continua ainda o texto realçando que «esta permanência requer dos Doze a realização, de modo particularmente claro e específico, da separação, em certa medida proposta a todos os discípulos, do ambiente de origem, do trabalho habitual, dos afectos, até dos mais queridos (cf. Mc 1, 16-20; 10, 28; Lc 9, 23.57-62; 14, 25-27)» (nº 60).

Assim, «a identidade profunda do Seminário é a de ser, a seu modo, uma continuação na Igreja da mesma comunidade apostólica reunida à volta de Jesus, escutando a sua palavra, caminhando para a experiência da Páscoa, esperando o dom do Espírito para a missão» (nº 60).

Na verdade, «esta identidade constitui o ideal normativo que estimula o seminário, nas mais diversas formas e nas múltiplas vicissitudes que, enquanto instituição humana, vive na história, a que encontre uma concreta realização, fiel aos valores evangélicos em que se inspira e capaz de responder às situações e necessidades dos tempos» (nº60).

Pormenorizando ainda mais a sua missão, reconhece-se que «o seminário é, em si mesmo, uma experiência original da vida da Igreja: nele o Bispo torna-se presente por meio do ministério do reitor e do serviço de corresponsabilidade por ele animado com os outros educadores, em ordem a um crescimento pastoral e apostólico dos alunos» (nº 60).

Realmente, «os vários membros da comunidade do Seminário, reunidos pelo Espírito numa única fraternidade, colaboram, cada qual segundo os dons de que dispõe, para o crescimento de todos na fé e na caridade a fim de se preparem adequadamente para o sacerdócio, e por conseguinte, prolongarem na Igreja e na história a presença salvífica de Jesus Cristo, o Bom Pastor» (nº60).

O saudoso Papa trata o Seminário como comunidade educante, isto é, «a inteira vida do seminário, nas suas mais diversas expressões, está empenhada na formação humana, espiritual, intelectual e pastoral dos futuros presbíteros: trata-se de uma formação que, embora assuma tantos aspectos comuns à formação humana e cristã de todos os membros da Igreja, apresenta conteúdos, modalidades e características que decorrem especificamente do seu fim principal, que é o de preparar para o sacerdócio» (nº 61).

  1. João Paulo II, nesta página do notável documento «Pastores Dabo Vobis» descreve-nos com todo o rigor e actualidade o que se exige da comunidade educativa do Seminário Maior. Todos estes aspectos encontram formulação adequada na Nova Ratio Fundamentalis que deverá ser por todos conhecida e assimilada.

Mas permitam-me que acrescente a esta nossa reflexão, com propósito de enriquecimento, a mensagem que o Papa Francisco transmitiu aos Consagrados e Seminaristas na sua recente viagem à Colombia.

Num dado passo do seu discurso, afirma que Jesus de Nazaré «convidando-nos a permanecer n’Ele; permanecer não significa apenas estar, mas indica manter uma relação vital, existencial, de absoluta necessidade; é viver e crescer em união fecunda com Jesus, fonte de vida eterna». Assim, «permanecer em Jesus não pode ser uma atitude meramente passiva ou um simples abandono sem consequências na vida diária. Tem sempre consequências, sempre».

Concretiza este permanecer em Jesus Cristo com três modo de viver a comunhão com Ele: tocando a Sua humanidade; contemplando a Sua divindade; vivendo na alegria.

Isto realiza-se traduzindo na vida pessoal e comunitária os gestos de ternura e misericórdia, cultivando o amor pela sagrada escritura, pela oração e pelos sacramentos, edificando uma personalidade adorante, e, deste modo, o Papa sublinha que não se viva de «saudosismos, nem queira enjaular o mistério; não procure responder a perguntas que já ninguém se põe, deixando no vazio existencial aqueles que nos interpelam a partir das coordenadas do seu mundo e da sua cultura».

Por último, «a nossa alegria contagiante deve ser o primeiro testemunho da proximidade e do amor de Deus». Só deste modo, «somos verdadeiros dispensadores da graça de Deus, quando deixamos transparecer a alegria do encontro com Ele».

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, a primeira a viver a alegria e a missão que o Espirito Santo infundiu no seu coração e no seu ser, que nos acolha no seu regaço de Mãe e nos conduza pelos caminhos que levam ao encontro do Seu Filho Jesus Cristo e que abençoe este novo ano no nosso Seminário.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores