Paroquial São Salvador do mundo. Ribeirinha.

O evangelho apresenta-nos o expoente do reinado de Jesus Cristo: sem trono imperial, a partir da cruz dos condenados. Ao contrário daqueles que o condenam, da parte de Jesus Cristo, a cruz, na qual está suspenso, mostra a vitória sobre a violência e a opressão, a vitória do amor. Perante os primeiros, Jesus permanece em silêncio.

Em contrapartida, ao que lhe pede compaixão, responde-lhe com aquilo que os outros queriam ver acontecer, mas sem a morte na cruz: «Hoje estarás comigo no Paraíso». Para Jesus ninguém se salva a si mesmo, pois quem faz de si mesmo um fim, o seu fim, perde-se a si próprio, porém quem perder a vida por causa d’Ele salvá-la-á.

A compaixão foi a marca de Jesus de Nazaré. Muitas foram as pessoas que através d’Ele experimentaram a compaixão divina. Foi o seu modo de ser compassivo que escandalizou alguns dos que se consideravam justos. Jesus nunca ficou insensível aos que lhe expressavam a necessidade de serem perdoados e amados. A todos, de alguma maneira, antecipou essa definitiva promessa: «Estarás comigo no Paraíso».

O malfeitor chamado «bom ladrão» acaba por ser um modelo para o discípulo cristão: pela correção fraterna que faz ao seu companheiro malfeitor, pela responsabilidade que assume dos seus atos e pela confissão de fé que faz em Jesus reconhecendo a sua inocência.

Hoje, Cristo ressuscitado continua a distribuir a compaixão. Quando dele nos aproximamos, para lhe expressar a necessidade de sermos perdoados e amados, recebemos a mesma promessa: «Estarás comigo no Paraíso». Por isso «damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados».

Esta experiência de nos sabermos perdoados e amados, esta promessa de nos sabermos salvos pelo amor, há de nos levar a comunicar aos outros tamanha alegria.

A grande mensagem de que é portadora a Igreja é Jesus, como Rei e Senhor.  Sim, Ele mesmo, o seu amor infinito por cada um de nós, a sua salvação e a vida nova que nos deu.

A mensagem que o Papa Francisco dirige hoje aos jovens inspira-se na perícope evangélica: «Maria levantou-se e partiu apressadamente». Destaca o verbo levantar-se, que significa também «ressuscitar», «despertar para a vida». As narrações da ressurreição usam muitas vezes os verbos: acordar e levantar-se.

Depois da Anunciação, Maria teria podido concentrar-se em si mesma, nas preocupações e temores derivados da sua nova condição; mas não! Entrega-se totalmente a Deus! Pensa, antes, em Isabel. Levanta-se e sai para a luz do sol, onde há vida e movimento, porque tem a certeza de que os planos de Deus são o melhor projeto possível para a sua vida.

A Mãe do Senhor é modelo dos jovens em movimento, jovens que não ficam imóveis diante do espelho em contemplação da própria imagem, nem «alheados» nas redes. Ela está completamente projetada para o exterior. É a mulher pascal, num estado permanente de êxodo, de saída de si mesma para o Outro, com letra grande, que é Deus e para os outros, os irmãos e as irmãs, sobretudo os necessitados, como estava então a prima Isabel.

Cada um de vós pode perguntar-se: Como reajo perante as necessidades que vejo ao meu redor? Busco imediatamente uma justificação para não me comprometer, ou interesso-me e torno-me disponível? É certo que não podeis resolver todos os problemas do mundo; mas talvez possais começar por aqueles de quem está mais próximo de vós, pelas questões do vosso território.

Quais são as «pressas» que vos movem? O que é que vos faz sentir de tal maneira a premência de vos moverdes que não conseguis ficar parados? A pressa da jovem mulher de Nazaré é a pressa típica daqueles que receberam dons extraordinários do Senhor e não podem deixar de partilhar, de fazer transbordar a graça imensa que experimentaram. É a pressa de quem sabe colocar as necessidades do outro acima das próprias. Uma pressa boa impele-nos sempre para alto e para o outro.

Mas há também uma pressa não boa, como, por exemplo, a pressa que nos leva a viver superficialmente, tomar tudo levianamente sem empenho nem atenção, sem nos envolvermos verdadeiramente no que fazemos; a pressa de quando vivemos, estudamos, trabalhamos, convivemos com os outros sem colocarmos nisso a cabeça e menos ainda o coração. Pode acontecer nas relações interpessoais: na família, quando nunca ouvimos verdadeiramente os outros nem lhes dedicamos tempo; nas amizades, quando esperamos que um amigo nos faça divertir e dê resposta às nossas exigências, mas, se virmos que ele está em crise e precisa de nós, imediatamente o evitamos e procuramos outro; e mesmo nas relações afetivas, entre noivos, poucos têm a paciência de se conhecerem e compreenderem a fundo. Ora, todas estas coisas vividas com pressa dificilmente darão fruto.

Os jovens são sempre a esperança duma nova unidade para a humanidade fragmentada e dividida. Mas somente se tiverem memória, apenas se escutarem os dramas e os sonhos dos idosos.

«Não é por acaso que a guerra tenha voltado à Europa no momento em que está a desaparecer a geração que a viveu no século passado», afirmou o Papa Francisco na sua mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, tal como também não é por acaso que, à medida que vão desaparecendo as gerações que viveram o tempo do fascismo em Portugal,  há outras que querem voltar a um sistema politico totalitário, porque desde que nasceram só conheceram a democracia, e ainda outras que querem voltar ao tempo da Igreja anterior ao Concílio Vaticano II, porque desde que nasceram não conheceram outro tempo.  Há, pois, necessidade da aliança entre jovens e idosos, entre netos e avós, para não esquecer as lições da história, para superar as polarizações e os extremismos deste tempo.

Recebamos, construamos e ofereçamos ao Pai do Céu e aos nossos concidadãos na terra uma alternativa: «um reino eterno e universal, reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz». Esse é o futuro da nossa juventude e do nosso caminho por esse mundo.

Isso é tão importante que quando Jesus nos ensinou a rezar faz o pedido: «venha a nós o vosso reino», tal como rezamos antes da comunhão.  O alimento que nos sustem pelo caminho é a Eucaristia, o mesmo Cristo Ressuscitado, que nos dá força para que O sigamos com perseverança e alegria.

Que o Espírito Santo acenda nos vossos corações o desejo de vos levantardes e a alegria de caminhardes todos juntos. O tempo de nos levantarmos é agora. Levantemo-nos apressadamente! E, como Maria, levemos Jesus dentro de nós, como Senhor da nossa vida, da nossa alma e do nosso corpo para O comunicar a todos.

 

Hélder, Administrador Diocesano de Angra