Paróquia – Santuário de Nossa Senhora da Conceição. Angra.

A solenidade da Imaculada Conceição da Virgem santa Maria celebra a digna morada que Deus preparou para o seu Filho, em atenção aos méritos futuros da morte de Cristo, como foi definido solenemente como verdade recebida por antiga tradição, atestada liturgicamente desde o século XI e que chegou aos Açores no século XV.

 

Hoje alegramo-nos com razão devido ao modo como Deus atuou com a jovem Maria, enchendo-a da sua graça e preparando-a para ser a Mãe do Messias. Mas o feriado nacional, por ser o dia da padroeira e rainha de Portugal não é para ficarmos numa figura do passado ou numa epopeia da história coletiva. Somos convidados ademais a tirar uma consequência pessoal deste mistério para o nosso tempo.

 

O que a Palavra de Deus nos diz hoje – o que Maria ouviu e nós também – não se esgota nela, mas pede a cada peregrino, que tomou a decisão daqui estar, uma vida sã, «uma vida santa, irrepreensível em caridade na sua presença», vida própria de filhos e herdeiros.

 

Esta festa interpela-nos para que também nós, desde a nossa própria vida, saibamos apreciar e imitar a resposta de Maria. Se a festa do dia 8 de dezembro é a festa do sim de Deus e do sim de Maria – uma vez que na leitura do livro do Génesis não havia a confluência de dois sins – deve ser também a festa e o compromisso no nosso sim. E assim como da confluência das duas atitudes de Deus e de Maria, por ação do Espírito Santo, sucedeu a encarnação salvadora de Jesus, do nosso sim brotará, por ação do mesmo Espírito, a nossa colaboração na salvação do mundo.

 

Maria, a nova Eva que aceitou para a sua vida o plano salvador de Deus, é o nosso melhor modelo para a vivencia deste tempo do Advento e do Natal da encarnação de Jesus de 2022.

Quer dizer que a comunidade cristã no meio do mundo leva já estes anos a colaborar na salvação do mundo, sentindo-se impulsionada a trabalhar na construção do Reino de Deus e disposta a que se volte encarnar em cada um de nós o amor salvador de Deus, em Jesus.

 

Nós não aspiramos ao privilégio singular de Maria, de ser santos desde a conceção. Não nascemos santos, mas por graça de Deus, e pela nossa liberdade e responsabilidade, vamos deixando construir a nossa existência e as nossas relações pessoais e sociais na santidade, isto é, segundo o soberano Espírito divino.

 

Explicitando melhor, podemos participar na luta contra o mal, que continua aberta nos nossos dias, apesar da vitória radical de Cristo, empenhando-nos na luta contra a corrupção e a violência, contra a discriminação e a exploração, contra a injustiça em concreto. Este será o modo ativo de colaborarmos na obra da salvação, retirando os obstáculos do caminho que nos impedem de ver a Deus, a criatura humana como nossa irmã, e a humanidade como uma família, cuja a única casa é comum para habitar e cuidar.

 

Este lugar, a que desde 1987, chamamos de santuário é um sinal da fé simples e humilde dos crentes, que encontram aqui a dimensão basilar da sua existência, experimentando de maneira profunda a proximidade de Deus e a ternura da Virgem Maria, numa experiência de espiritualidade onde a ação do Espírito Santo e a vida de graça se manifestam.

 

O afluxo de peregrinos, a oração humilde e simples do povo de Deus alternada às celebrações litúrgicas, a realização de graças que numerosos crentes atestam receber e a beleza natural do lugar permitem verificar como o santuário exprime uma oportunidade para a evangelização do nosso tempo.

 

Este lugar, não obstante a crise de fé que afeta o mundo contemporâneo, é percebido como espaço sagrado rumo ao qual se pode vir como peregrinos para encontrar descanso, silêncio, consolo e contemplação, na vida frenética dos nossos dias.

 

Pela sua natureza, o santuário é um lugar sagrado onde a proclamação da Palavra de Deus, a celebração dos Sacramentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia, e o testemunho da caridade exprimem o compromisso da Igreja para com a evangelização.

 

Através da espiritualidade própria do santuário, os peregrinos são guiados com a “pedagogia de evangelização” rumo a um compromisso responsável na sua formação cristã. No santuário escancararam-se as portas aos jovens, aos estudantes, aos doentes, às pessoas com deficiência, aos pobres, marginalizados e migrantes.

Por detrás de cada santuário há uma confraria como lugar de tradição, trabalho e progresso. Trata-se de um modo de participação laical na missão da Igreja pela vida espiritual mais cuidada de cada confrade, pelo deixar-se evangelizar pelo ensino e formação, por desenvolver uma atitude de oração pessoal e comunitária, por participar ativamente na liturgia das suas assembleias, por promover atos de misericórdia e caridade com os confrades e demais membros da comunidade, por receber da tradição a piedade e empenhar-se no progresso da vida cristã. A confraria deve ser um meio de ajudar a santificação dos seus membros pela força que uns dão aos outros.

Os fins de uma Confraria como a de Nossa Senhora da Conceição devem ser: praticar em geral os atos de culto compatíveis com os estatutos; promove o culto da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria; sufragar a alma dos confrades falecidos; prover à conservação e ornamento do santuário, sempre em diálogo com o reitor próprio.

Nas orações desta celebração pedimos a Deus «a graça de chegarmos purificados junto d’Ele» (oração coleta), de «sermos livres de toda a culpa» (oração sobre as oblatas) e que «cure em nós as feridas do pecado» (oração pós-comunhão).

É difícil dizer todos os dias o nosso sim ou ámen as estas orações, sobretudo nos momentos mais difíceis de obscuros da nossa vida. Por isso rezamos: «Senhor, Pai santo, que preservastes a Virgem santa Maria (…) para que fosse digna Mãe do vosso Filho e nela destes início à Igreja, esposa de Cristo, sem mancha nem ruga e a destinastes, a fim de ser, para o vosso povo, advogada da graça e exemplo de santidade».

Uma viagem pelos santuários diocesanos dos Açores, da Conceição de Angra à Serreta na Terceira, passando pelos santuários dedicados a Cristo em São Miguel, em São Jorge e no Pico, de 8 de dezembro de um ano a 8 de setembro do ano seguinte, faz-nos recordar que «somos um povo que caminha e juntos caminhando podemos alcançar uma cidade onde há justiça, sem penas nem tristezas, cidade onde há paz». Uma cidade cheia de graça, na alma de cada peregrino.

 

Hélder, Administrador Diocesano de Angra