Igreja Nossa Senhora da Esperança. Santuário Santo Cristo.

Estamos reunidos à volta do altar da Eucaristia para celebrar os 60 anos de vida deste Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Move-nos o dever de acção de graças a Deus que neste lugar tem atendido tantas situações de vida à procura de alívio, de conforto e de paz; desperta-nos para o reconhecimento de tantas pessoas, sacerdotes, religiosas e leigos, que dedicaram a sua vida a atender os peregrinos e a oferecer-lhes as condições para que as suas aspirações fossem atendidas; mas igualmente nos incentiva para continuar a fazer deste santuário lugar privilegiado de encontro com Deus, de crescimento humano e espiritual e de atenção aos mais excluídos da sociedade.

Em plena celebração da Ressurreição de Jesus de Nazaré, a Palavra de Deus que acabámos de escutar lança-nos três grandes desafios. O primeiro situa-nos no anúncio e no convite a fazer a experiência da Ressurreição de Jesus Cristo; o segundo indica-nos o itinerário de iniciação cristã que começa pelo anúncio Kerigmático que sintetiza a morte e a ressurreição como núcleo fundamental da fé cristã e entrelaça-o com a vida de cada criatura; o terceiro realça as dificuldades e mesmo a mentira que se instala perante a novidade da Ressurreição, difícil para apreender pela inteligência humana e desinstaladora dos poderes do mundo e das ambições humanas.

Colocando-nos perante a experiência da ressurreição de Jesus de Nazaré deparamo-nos com o relato do Evangelho que nos refere que «Maria Madalena e a outra Maria, que tinham ido ao túmulo do Senhor,

afastaram-se a toda a pressa,  cheias de temor e de grande alegria, e correram a levar aos discípulos a notícia da Ressurreição. Entretanto, Jesus saiu ao seu encontro e saudou-as».

Eis o itinerário que todo o discípulo é chamado a realizar para se encontrar com Jesus Ressuscitado: confrontar-se com os sinais que revelam a história de Jesus de Nazaré inclusive da Sua morte; deixar-se iluminar pela acção do Espirito Santo que revela que estes sinais apontam para a vitória de Jesus sobre a morte e o mal, tal como Ele próprio tinha a firmado; a mistura de sentimentos, de temor perante a novidade e de alegria porque se tinha reconhecido que o Mestre está vivo; e por fim, o culminar da experiência a revelação própria de Jesus Cristo que se apresenta Vivo.

Permitam-me que convide a todos os que orientam e a todos os que procuram este santuário que criem as condições para que a experiência de Jesus Cristo se faça de tal modo que aqueles que daqui partam, sinta o impulso de anunciar a Jesus de Nazaré Vivo e Ressuscitado, tal como nos refere o Evangelho.

Na verdade o envio e a experiência da comunicação da novidade da Ressurreição faz parte da experiência de quem se deixou interpelar por Jesus Cristo Vivo.

Desafiados pela necessidade de realizar um itinerário de iniciação cristã em ordem à verdadeira formação dos que procuram viver e seguir a Jesus Cristo a partir dos sacramentos do Baptismo, da confirmação e da Eucaristia, deparamo-nos com o modelo de anúncio que nos é descrito na primeira leitura dos Actos dos Apóstolos.

Aí, Pedro perante a multidão, sintetiza o mistério de Jesus de Nazaré, proclamando a Sua morte e Ressurreição, sublinhando o seu conteúdo salvífico, do qual todos nós usufruímos, e incorporando-nos a todos, em todos os tempos, não só como aqueles que recebemos a graça da Vida Nova mas também somos cúmplices pela Sua entrega e pela Sua morte. Completa este anúncio o facto de referir que «nós somos testemunhas destes factos».

Realmente, a vitalidade da vida da Igreja, a força e a frescura do proclamação e da missão dependem não só da experiência pessoal e comunitária da Ressurreição de Jesus Cristo, mas também de um verdadeiro itinerário de iniciação cristã, que se inicia sempre com o anúncio jubiloso e testemunhal do Kerigma.

Limitar-se a alimentar opiniões pessoais sem fundamento bíblico nem conversão, propor-se uma vida cristã a partir de ideias distorcidas sobre a pessoa de Jesus Cristo e o Seu mistério, fora da participação e orientação de uma comunidade que professa a fé, é incorrer num cristianismo sociológico mas sem força transformadora.

Eis um dos maiores desafios que hoje se colocam aos nossos santuários e também a este.

Normalmente, quem acorre a um santuário é alguém sedento de respostas para a sua vida. No meio das aflições porventura estará encoberta a necessidade de percorrer os caminhos de formação e de conversão que levam a encontrar-se com o verdadeiro Jesus Cristo. Eis um desafio pastoral que deve merecer a atenção de todos os que têm responsabilidades na orientação do Santuário. A primeira leitura, tirada dos Actos dos Apóstolos, é elucidativa deste itinerário.

Mas uma nova interpelação surge quando somos confrontados com os entraves que se colocam por parte da pessoa humana, da cultura, dos poderes estabelecidos ou dos interesses organizados, para não se deixar iluminar pela novidade da Ressurreição de Jesus Cristo, aliás, o mistério mais inaudito que oferece a resposta mais sublime à realidade concreta de toda a criatura.

O Evangelho fala da mentira que se instalou e que dura até aos dias de hoje. Nos nossos tempos, são muitas as linguagens e as distorções da verdade pelas quais se tenta iludir a realidade da Ressurreição de Jesus Cristo, testemunhada pelos Apóstolos e professada pela Igreja ao longo dos tempos.

As resistências à presença de Jesus Cristo no meio da sociedade e da cultura são muitas. Há um medo tremendo do homem de deixar de ser o senhor absoluto do mundo e, por isso, rejeitando a fraternidade vive na rivalidade com os seus semelhantes.

Eis um enorme desafio que nos é lançado e que conduz ao diálogo entre a fé e a cultura, ao testemunho credível e convincente, à articulação de todas as faculdades pessoais no sentido de alcançar a verdade e da integração comunitária onde se experimenta a Vida Nova de Jesus Cristo que oferece as razões que a razão só por si não descobre.

Jesus Cristo no Evangelho apela a não ter medo e insiste no envio, afirmando: «Não temais. Ide avisar os meus irmãos que devem ir para a Galileia. Lá Me verão».

De facto, é necessário estar no lugar onde Jesus de Nazaré já nos espera, deslocar-se ao encontro dos irmãos para lhes anunciar a Boa Nova e não ter medo porque o Espirito Santo nos acompanha e nos fortalece.

O Santuário é o lugar onde Jesus Cristo nos acolhe, no qual podemos fazer a experiência da Sua Ressurreição, fortalecer a  comunhão com Ele de tal modo que sejamos d’Ele testemunhas.

Na verdade, este Santuário deverá ser local de Nova Evangelização.

Diante da Imagem do Santo Cristo dos Milagres imploro as Suas graças e bênçãos para a nossa diocese para que se edifique como comunidade evangelizada em comunhão missionária.

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores