Sé Catedral. Angra.

Celebramos neste domingo o dia da Igreja diocesana. A nossa diocese alegra-se em todos os seus membros pelo chamamento que Jesus cristo dirige a cada um e a cada comunidade cristã para viverem na comunhão com Deus, para assumirem corresponsavelmente a missão de testemunhar o Evangelho e de servirem a pessoa e a sociedade.

É dia de alegria, de acção de graças, de consciencialização e de responsabilização.

Viver a alegria que brota do encontro com Jesus Cristo é, sem dúvida, o primeiro grande objectivo dos discípulos de Jesus de Nazaré. Todos os diocesanos estão convidados a criar as condições para que se dê este encontro com Jesus Cristo que culminará na alegria e na esperança.

Damos Graças a Deus pela Sua iniciativa amorosa de Se revelar no amor que pela presença de Jesus Cristo e pela acção do Espirito Santo atinge o nosso ser, ilumina a nossa vida, irradia a vitalidade e a força que nos encaminham para o encontro com Deus e com os irmãos.

Fundamentados no amor do Pai, do Filho e do Espirito Santo, alimentamos a nossa vida comunitária, configuramo-nos à semelhança de Deus e partilhamos dos dons pessoais com os irmãos.

A vida em Cristo exige um itinerário permanente no crescimento na fé, na esperança e na caridade. A Igreja tem necessidade de escutar permanentemente o Evangelho para viver a frescura da primeira hora e para que evangelizando-se possa evangelizar.

Ser cristão exige a pertença e a participação numa comunidade cristã concreta. Viver a comunhão eclesial assenta na participação activa e consciente na Eucaristia na qual Jesus Cristo se oferece em alimento para nutrir a nossa existência.

Quanta consciencialização se exige nos tempos de hoje para uma vivência autêntica da fé cristã que não poderá prescindir da participação eucarística e da inserção comunitária.

Ser Igreja é assumir a responsabilidade que é própria do mandato divino de testemunhar o Evangelho partilhando-o na comunidade e com ele fermentar o mundo.

O mundo de hoje, no meio de tantas perplexidades e angustias, projecta sobre os discípulos de Jesus Cristo sinais a interpelar para uma acção evangélica. Pertence-nos interpretar e discernir os Sinais dos Tempos e, em diálogo, oferecermos à cultura e à sociedade de hoje a Vida Nova de Cristo que desperta para a esperança e para a alegria.

A Palavra de Deus que acabámos de escutar sublinha algumas características próprias da Igreja.

S. Paulo na carta aos Tessalonicenses realça o valor da vivência comunitária assente no anúncio da Palavra de Deus e no testemunho apostólico. A Igreja é, no dizer do Apóstolo, espaço de partilha do Evangelho e de vida, de acção de Graças pelo crescimento comunitário e de mútua edificação.

Já o profeta Miqueias e Jesus Cristo no Evangelho acentuam que só Deus é Senhor e Mestre, Pai e Messias. Deste modo, oferecem uma norma de conduta para que o Povo de Deus possa estar no mundo mas sem se confundir com os critérios do mundo.

Na verdade, a Igreja pauta a sua acção pelo testemunho de Jesus Cristo que «veio para servir e não para ser servido»; que convida à humildade e à pobreza interiores para melhor abrir o coração à acção de Deus e ao despojamento em favor dos irmãos; que dá prioridade aos pobres e excluídos no acesso ao Reino dos Céus.

Celebrar o dia da Igreja diocesana é reconhecermos a grandeza do nosso baptismo que se vive na comunhão com todos os baptizados no espaço da diocese, a qual é constituida por diversos serviços, todos eles unidos e em comunhão uns com os outros pela acção do mesmo Espirito Santo.

Desde o ministério apostólico continuado na pessoa do Bispo que com os presbíteros formam uma família, o presbitério, com o serviço dos diáconos, passando pela missão dos fiéis leigos e dos consagrados, a Igreja diocesana é a autêntica Igreja de Jesus Cristo que vive a comunhão e se entrega na missão de acordo com a vocação de cada um.

Permitam-me que sublinhe uma das afirmações mais eloquentes do Concilio Vaticano II acerca da Igreja quando sublinha que ela é sacramento universal de salvação. Sinto-me na obrigação de relacionar esta evocação do Concilio com o ser e a missão da Igreja diocesana.

No Decreto conciliar Lumen Gentium, logo a iniciar o texto, diz-se que «a luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15)». E acrescenta  «mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal».

Assim, a Igreja diocesana coloca-se perante Cristo e em referencia constante a Ele reconhece a sua natureza e a sua missão. Ela é sinal perante o mundo da presença salvadora de Jesus Cristo. Facto que motiva cada um dos diocesanos e cada comunidade cristã a estabelecer uma comunhão de vida com Cristo de modo que sejam reflexo da vida em Cristo.

Porque é desta sua natureza profunda que ela escuta a voz incessante do Mestre que a convoca para a missão.

O mundo dos homens em cada época deve olhar para a Igreja e, apesar das suas limitações humanas, ver reflectido a Cristo na Sua vontade de abraçar a todos os homens e de os reconduzir ao Pai.

Daí, a única missão da Igreja diocesana exprime-se no dever de evangelizar. Paulo VI refere que «aqueles que acolhem com sinceridade a Boa Nova, por virtude desse acolhimento e da fé compartilhada, reúnem-se portanto em nome de Jesus para conjuntamente buscarem o reino, para o edificar e para o viver» (EN, 13). Na verdade, «eles constituem uma comunidade também ela evangelizadora» (Ib, 13).

E, acrescenta que «a ordem dada aos doze, “Ide, pregai a Boa Nova”, continua a ser válida, se bem que de maneira diferente, também para todos os cristãos» (Ib, 13).

De facto, «a Boa Nova do reino que vem e que já começou, de resto, é para todos os homens de todos os tempos» (Ib., 13).

Segundo a vontade expressa de Jesus Cristo, «a Igreja é depositária da Boa Nova que há-de ser anunciada» (Ib. 15). Isto é «as promessas da nova aliança em Jesus Cristo, os ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, a Palavra da vida, as fontes da graça e da benignidade de Deus, o caminho da salvação, tudo isto lhe foi confiado» (Ib. 15).  Estamos realmente perante «o conteúdo do Evangelho e, por conseguinte, da evangelização, que ela guarda como um depósito vivo e precioso, não para manter escondido, mas sim para o comunicar» (Ib. 15).

Já o Papa Francisco convida a Igreja, isto é, cada diocese, a deixar-se envolver pela alegria que brota do encontro com Jesus Cristo e a testemunhar a alegria do Evangelho no meio do mundo tornando-se uma comunidade de discípulos missionários. Acentua o Papa que «a evangelização é dever da Igreja».

Se «ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projecto de amor do Pai», então, «isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, dêem esperança e novo vigor para o caminho» (EG, 114).

Reconheçamos, como diocese, que «a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho» (Ib. 114).

Demos graças a Deus pelo nosso presbitério, pelo nosso seminário, pelos nossos diáconos, pelos consagrados e leigos, famílias, crianças e jovens, enfim pelo povo de Deus que caminha na história e se localiza no espaço da nossa diocese.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e rainha dos Açores e  do Beato João Baptista Machado, exemplos singulares de evangelizadores que abençoem esta diocese e nos encaminhem pelas sendas que levam á evangelização do mundo de hoje.

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores