Sé. Angra.

«Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto». Com estas palavras S. João oferece à sua comunidade cristã os fundamentos para enfrentarem as vicissitudes e os ataques que sofriam perante o mundo pagão e hostil e ao mesmo tempo convidava a progredir na fidelidade a Deus, apelando a que cada baptizado se purifique até à visão total de Deus na comunhão perfeita com Deus.

Na verdade nunca é demais acentuarmos a realidade de que somos filhos de Deus. Como diz S. Paulo, se somos filhos também somos herdeiros da vida nova que nos é oferecida em Cristo Jesus.

Perante o desafio da santidade, a primeira e universal vocação de todos os baptizados como afirma o Concilio Ecuménico Vaticano II, celebramos hoje a solenidade de Todos os Santos e nela temos a alegria de instituir três seminaristas no ministério de Leitores e, da minha parte, dar graças a Deus por seis anos de serviço nesta Igreja Diocesana.

Santidade, serviço e Acção de Graças marcam esta nossa celebração.

A palavra de Deus proporciona-nos o contexto do mundo e da missão no qual o discípulo de Jesus Cristo é chamado a progredir na santidade, a exercitar a missão em atitude de serviço e a exprimirmos a gratidão pelas maravilhas que o Senhor vai realizando na Sua Igreja apesar das nossas limitações.

Deste a primeira leitura do livro do Apocalipse, passando pela proclamação das Bem Aventuranças e deparando-nos com os desafios das comunidades cristãs dos primeiros tempos, reconhecemos um mundo paganizado, hostil à mensagem do Evangelho, materializado, fechado em si mesmo e oferecendo o seu desalento e a s suas frustrações como objectivos últimos para os seus cidadãos. Perante este mundo, tão actual, os cristãos são chamados a mergulhar no mistério pascal de Jesus de Nazaré e nele branquear as suas túnicas, em sinal de renovação e transformação; são impelidos a critérios novos que vêm da prática das Bem Aventuranças e nelas encontrar, na comunhão, na empatia, no despojamento, na sintonia com o sofrimento do outro, a força mobilizadora que vem da comunhão de vida e missão com Jesus de Nazaré; são fortalecidos pela envolvência de uma comunidade cristã que consciente da sua filiação divina caminha em conjunto, oferecendo um testemunho de vida que contrasta com o mundo mas que cria a admiração de todos os que se interrogam pelo sentido da sua existência.

Seguindo as palavras do Papa Francisco, «Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) (GE,63) . Na verdade, «estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre “como fazer para chegar a ser um bom cristão”, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças» (GE, 63).

Aliás, «nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida» (GE, 63).

Segundo as palavras do Concilio Vaticano II, «a nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é indefectivelmente santa» (LG, 39). E, acrescenta-se, «com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito o único Santo», amou a Igreja como esposa, entregou-Se por ela, para a santificar (cfr. Ef. 5, 25-26) e uniu-a a Si como Seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para glória de Deus». (LG, 39).

De facto, «esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta, e deve manifestar-se, nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo; aparece dum modo especial na prática dos conselhos chamados evangélicos» (LG, 39).

Com o apelo «sede perfeitos como o vosso Pai do Céu e perfeito» (Mt. 5, 48), Jesus de Nazaré «mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição» (LG, 40).

Aliás, como recomenda o Concilio Vaticano II, «para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo» (LG, 40).

Recordo hoje as palavras do Papa Francisco que ao referir-se aos santos do «pé da porta» diz o seguinte: «gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir» (GE, 7). Aliás, «nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante» (GE,7). De facto, «esta é muitas vezes a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da “classe média da santidade”» (GE, 7).

Fixemos este apelo do Papa quando afirma que «a santidade é o rosto mais belo da Igreja» (GE, 9).

Carissimos jovens que hoje ireis receber o serviço de Leitores. Meditar na Palavra de Deus, deixar-se converter por ela e proclamá.la com a palavra e com os gestos e testemunho oferece os alicerces sólidos da santidade, edifica a comunidade cristã e alerta o mundo para o sentido mais pleno da existência humana.

Vós estais a convidar toda a comunidade cristã a valorizar a Palavra de Deus e a deixar-se guiar por ela. Sede servidores da Palavra Viva que tem em Cristo a Sua manifestação perfeita.

Na caminhada sinodal que nos desafia, o convite á santidade e o serviço da Palavra de Deus terão de estar sempre presentes a inspirar o nosso itinerário de cristãos participativos na missão da Igreja.

Toda a missão pastoral tem como ultimo objectivo a santidade. Neste sentido, sinto como muita oportuna e significativa esta celebração para dar graças a Deus pelo meu serviço pastoral nesta diocese de Angra e Ilhas dos Açores e para agradecer a todos, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, leigos nos diversos movimentos, serviços e instituições me acompanharam durante este tempo de desempenho da minha missão pastoral nesta diocese. A todos bem hajam e que o Senhor Jesus recompense o vosso esforço, estima e amizade.

Não poderia, nesta circunstância de deixar uma palavra pública de reconhecimento a todos os governantes da Região, ao Senhor Representante da República, à Assembleia Legislativa, no Governo Regional, aos Autarcas, Forças Militares, militarizadas e de segurança,  colectividades e associações, e aos profissionais nas diversas actividades que promovem a dignidade humana e o bem comum. Senti-me sempre acolhido, estimado e favorecido na missão pastoral pelo estimulo que de todos recebi.

Não posso de deixar uma palavra de estima e gratidão aos açorianos na diáspora, cujas comunidades, na maioria visitei e que tanto carinho me prestaram. Bem hajam.

A todos um grande reconhecimento e gratidão.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, e do Beato João Baptista Machado, nosso padroeiro, as suas bênçãos e graças para todo o povo de Deus, de modo especial para os mais excluídos e marginalizados.

 

+João Lavrador, Administrador Diocesano