II Jornada das Comunicações Sociais da Diocese de Angra. Seminário Episcopal de Angra.

Renovo a minha saudação e agradeço a colaboração que nos prestaram na reflexão ao Senhor Doutor Manuel Pinto e ao Senhor Doutor Soromenho Marques e aos que integraram os diversos painéis de reflexão.

Saúdo-vos a vós, jornalistas, e a todos os que vos quisestes associar a esta iniciativa de reflexão e de diálogo sobre algumas problemáticas.

Da importância da comunicação social é sobejamente já conhecida e sentida, da sua capacidade singular para intervir na cultura e nas mentalidades é de todos notória e da influência que as novas tecnologias e novas redes sociais têm no dia a dia das pessoas já é por uma maioria da população sentida.

Em sintonia com esta nova configuração cultural para a qual a comunicação social, nos seus diversos meios, tem uma importante intervenção, a diocese de Angra propôs-se oferecer esta plataforma de diálogo entre todos os que são responsáveis e agentes da comunicação social na nossa Autonomia dos Açores. Estamos perante um serviço que muito poderá ajudar a encontrar os caminhos que melhor possam servir a pessoa humana e a sua dignidade e o bem da sociedade.

O tema que orientou a nossa reflexão e diálogo «comunicar: uma ponte para a inclusão» é da máxima importância numa sociedade com tantos contrastes, assimetrias, rivalidades, violências, que gera tantas exclusões sejam económicas, culturais, sociais e religiosas.

Este tema vem na sequência da interpelação do Papa lançada à Igreja e ao mundo através da sua mensagem para o dia mundial das comunicações sociais, deste ano.

Reflectindo sobre a realidade da nossa sociedade e reconhecendo que a misericórdia é o maior de todos os gestos para a comunhão, integração e inclusão de todos os homens que se querem a pertencer a uma família comum, convida a fazer pontes.

Permitam-me que cite uma passagem desta referida mensagem que diz: «a comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade». E, acrescenta «como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia». Sublinha, então, que «as palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e acções hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio». Porém, «ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação».

Deste modo, a misericórdia não se restringe a ser uma proposta religiosa mas sim uma categoria de relação social e de interferência cultural. Actuar com misericórdia e impregnar a cultura de misericórdia é devolver ao ser humano a profundidade do seu ser criado para a comunhão e realizado através da entrega generosa ao bem, à verdade, à beleza e ao amor.

Só a misericórdia torna grande o coração de quem é misericordioso e só através da misericórdia se restitui ao ser humano a dignidade que através da pura justiça nunca alcançará.

Neste sentido, refere o Santo Padre na referida mensagem: «queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades». A misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar.

O Papa pensa numa sociedade plenamente humana e encoraja a construi-la à imagem de uma família que tem as portas sempre abertas e onde existe uma compreensão entre todos os seus membros e não como um espaço de estranhos que competem e procuram prevalecer.

Assim, diz o Papa Francisco que «é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade». E, acrescenta que «a escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores». E, ainda «escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum».

Estamos numa sociedade cujas pessoas têm necessidade de serem ouvidas, ou melhor de encontrar alguém que as escute. Não será esta a atitude mais sublime duma sociedade democrática? Aquela que escuta, que dialoga, que promove e que cria relações fraterna?

Qual o papel da comunicação social neste contexto social e neste convite que nos é dirigido a criar pontes em ordem ao bem comum?

São interrogações a que procurámos dar resposta no trabalho que desenvolvemos ao longo deste dia. Perante a numerosa diversidade de meios de comunicação que estão ao dispor da sociedade açoriana, quisemos prestar este serviço para melhor nos conhecermos e melhor servirmos. A Igreja nos Açores dispõe-se a servir de plataforma para este diálogo e para este serviço.

Que a nossa reflexão nos tenha ajudado a caminhar neste sentido.

No final deste dia quero deixar o meu muito obrigado pela colaboração de todos os presentes.

 

+João Lavrador

Bispo de Angra e Ilhas dos Açores