Igreja Paroquial de Ribeira Quente.

«Jesus ia caminhando por cidades e aldeias, a pregar e a anunciar a boa nova do reino de Deus». Tal como nos narra o Evangelho, a missão de anunciar a boa noticia da salvação fazia parte da tarefa de Jesus de Nazaré que percorria todos os lugares, cidades e aldeias. Foi assim no tempo histórico de Jesus Cristo, continua a ser hoje a missão da Igreja, de cada comunidade cristã e de cada baptizado.

O percurso que Jesus Cristo realiza ao longo dos tempos para que o anuncio da boa noticia do reino de Deus possa atingir a todos os homens exige que seja acompanhado pelos doze, os Apóstolos, e por outras pessoas, no caso do Evangelho mulheres que servem Jesus com os seus bens.

Deste modo, é-nos apresentada a exigência da evangelização. Sem dúvida, como refere o Papa Paulo VI, a Igreja «tem consciência viva de que a palavra do Salvador, “Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus”, se lhe aplica com toda a verdade» (EN, 14).

Realmente, «aqueles que acolhem com sinceridade a Boa Nova, por virtude desse acolhimento e da fé compartilhada, reúnem-se portanto em nome de Jesus para conjuntamente buscarem o reino, para o edificar e para o viver» (EN, 13). Deste modo, «eles constituem uma comunidade também ela evangelizadora» (Ib., 13).

Na celebração dos cem anos desta Igreja de Ribeira Quente e na sua dedicação é muito oportuna esta advertência que nos é dirigida a partir do Evangelho.

Com o olhar agradecido, contemplando este templo, somos conduzidos até ao interior de uma comunidade cristã que ao longo destes cem anos soube acolher a Boa Noticia da Salvação e a soube transmitir por palavras e pelo testemunho de vida.

Na verdade, «evangelizadora como é, a Igreja começa por se evangelizar a si mesma». Mais ainda, «comunidade de crentes, comunidade de esperança vivida e comunicada, comunidade de amor fraterno, ela tem necessidade de ouvir sem cessar aquilo que ela deve acreditar, as razões da sua esperança e o mandamento novo do amor» (EN, 15).

A comunidade cristã vive a esperança e a alegria do Reino de Deus no meio do mundo. Por isso, «Povo de Deus imerso no mundo, e não raro tentado pelos ídolos, ela precisa de ouvir, incessantemente, proclamar as grandes obras de Deus, que a converteram para o Senhor; precisa sempre ser convocada e reunida de novo por ele» (EN, 15).

A frescura que deve animar cada baptizado e cada comunidade cristã vem do Evangelho vivido e testemunhado. Di-lo Paulo VI quando afirma que «ela tem sempre necessidade de ser evangelizada, se quiser conservar frescor, alento e força para anunciar o Evangelho» (Ib., 15).

Certamente que todos temos consciência que ao darmos graças a Deus pela comunidade cristã de Ribeira Quente que ao longo destes cem anos proclamou nesta Igreja a Palavra de Deus, aqui celebrou os sacramentos, neste lugar edificou, alicerçada na Eucaristia, uma comunidade de irmãos que partilham dos seus dons e daqui se projectou para oferecer ao mundo a Boa Nova de Jesus Cristo, estamos igualmente a comprometermo-nos, no tempo em que vivemos, a continuar a ser comunidade evangelizadora.

O Papa Francisco interpela-nos de igual modo dizendo que «a evangelização é dever da Igreja». Mais ainda, «este sujeito da evangelização, porém, é mais do que uma instituição orgânica e hierárquica; é, antes de tudo, um povo que peregrina para Deus». E, acrescenta, «trata-se certamente de um mistério que mergulha as raízes na Trindade, mas tem a sua concretização histórica num povo peregrino e evangelizador, que sempre transcende toda a necessária expressão institucional» (EG, 111).

Fiéis ao projecto amoroso de Deus Pai que nos abraça com ternura e misericórdia exige-se-nos sermos «o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, dêem esperança e novo vigor para o caminho». Por isso, «a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho» (EG, 114).

A proclamação do Evangelho do Reino de Deus é um apelo constante à conversão. Esta exigência está bem presente nas palavras que o Apóstolo S. Paulo dirige ao seu discípulo e companheiro Timótio, tal como nos apresenta a leitura que escutámos.

Os critérios do mundo e as exigências do Reino de Deus estão aí bem patentes. Na verdade são para cada um de nós as palavras que nos dizem tu, homem de Deus evita seguir as seduções do mundo, mas pelo contrário «pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão». E, acrescenta «combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual fostes chamado e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé perante numerosas testemunhas».

Ao recordarmos todos os nossos antepassados que nos antecederam e nos formaram na vida cristã, sentimos nova força para darmos continuidade na edificação desta comunidade e para enfrentarmos os embates que hoje sofre a fé cristã por parte de uma cultura que progressivamente se foi afastando de Deus.

É urgente evangelizar. Mas para tal é forçoso deixarmo-nos evangelizar.

Um dos grandes males do nosso tempo é a falta de força evangelizadora. Cada pessoa limita-se à sua opinião muitas vezes formada segundo os critérios do mundo e não dá espaço para que seja o Evangelho a edificar o seu pensamento e a informar as suas atitudes, opões e valores. Por isso, podemos dizer que é urgente deixar-se evangelizar.

O projecto evangelizador da Igreja, de cada comunidade cristã, de cada família e de cada baptizado integra a vocação como apelo que Jesus Cristo dirige a cada pessoa para a tornar seu discípulo e a missão de ser Apóstolo na Igreja e no mundo.

Esta Igreja da qual celebramos em alegria e festa o seu centenário de vida é sinal da presença de Jesus Cristo no meio do Seu povo ao qual interpela e envia. A proclamação da Boa Nova se for autêntica terá de despertar o desejo de seguir a Jesus Cristo.

Por isso, permitam-me que me dirija a vós jovens para vos exortar a conhecerdes de perto a Jesus de Nazaré, o grande amigo dos jovens, a integrardes a vossa comunidade cristã e a deixar-vos interpelar por Ele para assumirdes a Sua missão na Igreja e no mundo.

Termino, implorando de S. Paulo, vosso padroeiro, a coragem de o imitardes no seu entusiasmo de Apostolo, e de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, que abençoe esta paróquia, as suas famílias, crianças, jovens e idosos, os doentes e os emigrados, os que sofrem tribulação temporal ou espiritual e nos encaminhe pelas sendas da evangelização do mundo de hoje.

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores