Sé Catedral. Angra.

Na noite em que celebramos a vitória de Jesus de Nazaré sobre a morte manifestando-se ressuscitado e revelando-se àqueles que o procuravam morto mas na ânsia de se cumprirem as promessas feitas ao longo da história da salvação e de modo especial nas palavras e nos gestos de Jesus ao longo da Sua vida pública, somos convidados a aprofundar em nós o valor da nossa condição de baptizados, sacramento que nos leva a saborear a vida nova do Ressuscitado e a configurar a nossa vida com o mistério pascal de Cristo.

Começámos por percorrer alguns passos significativos da história do Povo Biblico que exprimem todo o seu sentido na Ressurreição de Jesus de Nazaré.

É à luz da ressurreição do Filho de Deus que escutamos o relato da criação para reconhecermos que agora, participantes da vida nova de Cristo, somos chamados a edificar uma nova criação; fomos introduzidos na maravilhosa experiência de libertação do Egipto que preanuncia a verdadeira libertação da humanidade do pecado e da morte realizada pelo mistério pascal de Cristo; contemplámos a verdadeira água que purifica e refresca, que limpa de toda  a imundície e sacia a sede da caminhada de um povo que se dirige para a meta que é o encontro com Jesus Cristo vivo e ressuscitado.

Daí a exortação que nos é dirigida por S. Paulo ao dizer-nos que «todos nós que fomos baptizados em Jesus Cristo fomos baptizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Baptismo na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova».

Reconhecemos, então, que toda a palavra e todos os gestos e sinais que incorporam esta celebração oferecem-nos uma compreensão renovada do que o baptismo faz em nós e da missão que comporta a consciência de sermos baptizados.

De facto, pelo baptismo somos incorporados numa comunidade que partilha a vida nova de ressuscitados. Neste sentido quando a comunidade se reúne para celebrar o mistério pascal de Jesus Cristo e a manifestação permanente da Sua Ressurreição, «anuncia a Sua morte, proclama a Sua Ressurreição enquanto espera a Sua última vinda».

Iniciámos esta nossa celebração da Vigilia Pascal com a bênção do Lume Novo, a luz que simboliza a luz de Jesus Cristo ressuscitado. Ele verdadeiramente é a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo e uma vez sendo luz que penetra no nosso ser transforma-nos também em luz para os irmãos.

Dentro de momentos iremos contemplar a água baptismal para nos reconhecermos inundados, purificados, lavados e saciados pela água que sobre nós foi derramada no dia do nosso baptismo e nos fez participar da vida nova de ressuscitados com Jesus Cristo.

É verdadeiramente como baptizados e membros activos de uma comunidade de discípulos que somos convidados a percorrer o mesmo caminho que nos é descrito no Evangelho e que foi aberto pela primeira vez por algumas mulheres que movidas pela amizade para com Jesus foram ao sepulcro para cumprirem alguns gestos rituais mas algo de novo aconteceu e que está presente nas palavras daquele que as questiona sobre quem procuram e lhes anuncia que não está ali, mas que ressuscitou.

A ressurreição de Jesus Cristo, respondendo à criação decaida pelo pecado e à criatura humana sedenta de sentido para a sua existência, é um desafio profundo à inteligência humana e ao exercício dos poderes do mundo.

Na verdade o mal, o pecado e a morte só pela ressurreição do Filho de Deus serão destruídos. Por isso, a novidade surpreendente da ressurreição que requer a sintonia com o Amor de Deus e o Seu poder pode projectar esperança perante uma sociedade e uma cultura que continua a mover-se imersa em sinais de morte e de desespero.

De facto, todos nós, pessoal e comunitariamente temos necessidade de percorrer este caminho e escutar o maravilhoso anuncio que nos diz: «procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui».

Mais ainda temos necessidade, na fé, e dóceis à Palavra Reveladora da Ressurreição, aceitarmos o convite que nos exorta dizendo: «Vede o lugar onde O tinham depositado».

Eis a profundidade, a riqueza e o desafio desta celebração que nos faz saborear a maravilhosa experiência de viver a vida nova de ressuscitados.

Contudo, o Evangelho vai mais além para oferecer o itinerário completo de quem é chamado a viver a ressurreição de Jesus Cristo. A personagem que anuncia a Ressurreição de Cristo e convida a observar o lugar vazio onde estava sepultado a Jesus, é o mesmo que envia aquelas pessoas que iniciaram esta experiência a irem contar «aos seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse».

A necessidade de sermos anunciadores e testemunhas desta novidade e a certeza que Jesus Cristo Ressuscitado nos precede sempre onde somos enviados em missão evangelizadora é algo de fundamental que se depreende da experiência do Ressuscitado e da nossa condição de baptizados e membros de uma comunidade de discípulos.

Nesta noite, tão significativa para a nossa vivência de cristãos, lembro o lema que norteia a vida pastoral da nossa diocese, ao longo deste ano, e que refere «comunidade evangelizada em comunhão missionária».

A ressurreição de Jesus Cristo dá o verdadeiro fundamento para este apelo que nos é feito a partir da comunidade diocesana.

Imploro de Nossa Senhora, Mãe de Jesus Cristo, Mãe e Rainha dos Açores, que se alegra com a Ressurreição do Seu Filho que lance o seu olhar materno sobre as famílias, crianças, jovens, idosos, doentes, emigrados, excluídos social, cultural e religiosamente e todos os que procuram a edificação da sua dignidade humana e nos conduza pelos caminhos que levam à evangelização do mundo de hoje.

 

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores