Sé Catedral. Angra.

«As minhas ovelhas escutam a Minha voz; Eu conheço-as e elas seguem-Me». Estas palavras com as quais Jesus de Nazaré se apresenta perante o Seu Povo como o Bom Pastor são as mesmas com que Ele mesmo, hoje, Vivo e Ressuscitado, Se coloca no meio de nós, comunidade cristã, para nos oferecer a ternura, a misericórdia e o amor que esta expressão comporta, como nos desafia a acolhê-Lo e a transfigurarmo-nos á Sua imagem de modo que também nós mesmos edifiquemos uma comunidade que dê testemunho de Cristo o Bom Pastor.

Começa por afirmar que quem O segue escuta a Sua voz. De facto, tudo começa para o cristão por escutar a voz de Jesus Cristo que convida todos os baptizados a saborearem da Sua vida, a deixarem-se transformar por ela e a reflectirem-na nas suas acções, critérios e valores.

Eis o primeiro grande desafio que nos é lançado a cada um de nós e a toda a comunidade cristã. Urge a conversão pessoal e comunitária à luz da Palavra de Jesus Cristo, é imperioso estabelecer com Ele uma comunhão de vida que passemos de meras opiniões e de um cristianismo superficial e sem consistência para uma fé viva, plena de confiança e que se alicerça na mesma vida de Jesus de Nazaré.

Mas o segundo desafio é igualmente importante para nós hoje. Jesus diz que como Bom Pastor conhece as Suas ovelhas. Perante uma cultura que parece reduzir a questão de Deus a alguém que não ouve, nem tem voz, um principio sem intervenção, com o qual o homem pensa e age separado de qualquer relação com Deus que Se revela, é urgente proclamar e testemunhar a Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado, que conhece intimamente as suas criaturas, pelas quais deu a vida e em favor das quais ressuscitou e lhes oferece a Vida Nova.

Por último afirma Jesus Cristo que as Suas ovelhas seguem-No. Verdadeiramente o itinerário cristão não estaria completo sem o seguimento. Jesus Cristo interpela e no Seu amor atrai a Si mesmo os Seus discípulos para que estes O sigam.

Eis o terceiro desafio. Urge ultrapassar uma prática cristã apenas legal ou ritual, de mera tradição ou circunstancial, para assumirmos verdadeiramente a fé que se gera no encontro e na comunhão com Cristo que chama ao seguimento. Aliás um seguimento que implica toda a pessoa e toda a vida.

Deste modo temos perante nós, nestas três expressões que são igualmente desafios o núcleo da vida cristã que não pode ser outra coisa senão uma comunhão plena de vida com Jesus Cristo.

É neste contexto que somos convidados a apreciar o episódio narrado na primeira leitura que nos manifesta que perante a recusa dos judeus em aceitar a verdade da ressurreição de Jesus Cristo, os Apóstolos reconheceram que estavam chamados a estender a sua missão evangelizadora para os pagãos; ou a contemplação da multidão dos que seguem o Cordeiro agora glorificado, mas que para aí chegar sofreram a perseguição e a morte.

O nosso olhar de discípulos de Jesus Cristo coloca-se na glorificação de Jesus de Nazaré para sabermos dar sentido à rejeição e à perseguição e coloca-se na universalidade do envio para reconhecermos que não há fronteiras para a evangelização.

Neste contexto celebramos neste domingo, a festa do Bom Pastor, o culminar da semana de oração pelas vocações consagradas e temos perante nós seis jovens que orientam a sua vida para a entrega total a Cristo no presbiterado e que hoje querem receber a graça do ministério laical do Acolitado.

Na verdade somos uma Igreja que à imagem de Jesus Cristo é chamada a servir. E, nunca tanto como hoje, esta caracterização da comunidade cristã e de cada cristão foi tão sublinhada porque absolutamente necessária.

Como refere o Papa Francisco na mensagem para este dia, «antes de mais nada, na chamada à vida cristã, que todos recebemos com o Baptismo e que nos lembra como a nossa vida não é fruto do acaso, mas uma dádiva a filhos amados pelo Senhor, reunidos na grande família da Igreja».

Aliás, prossegue, «é precisamente na comunidade eclesial que nasce e se desenvolve a existência cristã, sobretudo por meio da Liturgia que nos introduz na escuta da Palavra de Deus e na graça dos sacramentos; é nela que somos, desde tenra idade, iniciados na arte da oração e na partilha fraterna».

Acrescenta ainda que «precisamente porque nos gera para a vida nova e nos leva a Cristo, a Igreja é nossa mãe; por isso devemos amá-la, mesmo quando vislumbramos no seu rosto as rugas da fragilidade e do pecado, e devemos contribuir para a tornar cada vez mais bela e luminosa, para que possa ser um testemunho do amor de Deus no mundo».

Caros jovens que vos ireis comprometer a servir a comunidade cristã através do ministério de acólitos, estais inseridos na Igreja, é para a edificação da comunidade cristã que cada um é chamado a oferecer o seu serviço á imagem de Jesus Cristo de modo a promovermos comunidades inteiramente ministeriais nas quais todos os baptizados participam activamente.

Este ministério não é transitório, pelo contrário ele marca a vossa vida de discípulos e selará a vossa forma de estar na Igreja mesmo quando receberdes os ministérios ordenados. Este ministério de acólito une o serviço do cristão ao altar que se manifestará como marca indelével de toda a vida do cristão.

Mas permitam-me ainda que cite novamente o Papa Francisco para nos ajudar a compreender melhor a vocação consagrada e ao ministério ordenado. Diz ele que «no encontro com o Senhor, alguém pode sentir o fascínio duma chamada à vida consagrada ou ao sacerdócio ordenado».

Na verdade «trata-se duma descoberta que entusiasma e, ao mesmo tempo, assusta, sentindo-se chamado a tornar-se “pescador de homens” no barco da Igreja através duma oferta total de si mesmo e do compromisso dum serviço fiel ao Evangelho e aos irmãos».

De facto, «esta escolha inclui o risco de deixar tudo para seguir o Senhor e de consagrar-se completamente a Ele para colaborar na sua obra».

O Santo Padre alerta para muitas resistências interiores que podem criar obstáculo a tal decisão, o mesmo se diga de certos contextos muito secularizados onde parece não haver lugar para Deus e o Evangelho podem levar ao desânimo.

Daí o alerta do Papa que convida a não ter medo. Diz ele: «não sejais surdos à chamada do Senhor! Se Ele vos chamar por esta estrada, não vos oponhais e confiai n’Ele». Mais ainda, «não vos deixeis contagiar pelo medo, que nos paralisa à vista dos altos cumes que o Senhor nos propõe». Aliás, «lembrai-vos sempre que o Senhor, àqueles que deixam as redes e o barco para O seguir, promete a alegria duma vida nova, que enche o coração e anima o caminho».

Vós jovens sois hoje nesta celebração a imagem viva do itinerário a seguir por todos os jovens e o convite a tornar a Igreja mais jovem deslocando-se até à fontes da alegria cristã e a seguir a Jesus Cristo que veio para servir e não para ser servido.

Imploro de Nossa Senhora, Nossa Senhora de Fátima, Mãe e Rainha dos Açores, que vos abençoe na vossa caminhada de serviço na Igreja e no mundo e nos conduza pelas sendas da evangelização do mundo de hoje.

Amen.

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores