Conceição. Angra.

A Palavra de Deus desta celebração oferece-nos dois relatos do diálogo de Deus com as Suas criaturas, o primeiro que foca as origens da criação e o segundo que inicia a obra de redenção operada por Jesus de Nazaré.

Na verdade, Deus dialoga com os Seus filhos ao longo de toda a história da salvação. Interpela, chama e oferece a Sua presença e a Sua Vida. Porém, respeita a liberdade da pessoa que pode orientar-se por caminhos que destroem a relação entre o homem e Deus.

Sendo este o drama desde a origem da criação é igualmente a desgraça dos tempos de hoje. Deus continua a procurar a pessoa por Ele criada e a oferecer-lhe em diálogo amoroso a Sua vida que é rejeitada por tantos sectores da humanidade actual.

Mas é igualmente verdade que o quadro que nos é apresentado no diálogo entre o Mensageiro Celeste e Maria de Nazaré inspira a vida de todos os discípulos de Jesus Cristo. Voltados para Maria de Nazaré e reconhecendo-a como a Cheia de Graça deparamo-nos com o maior de todos os desafios lançado a cada comunidade cristã e a cada cristão, viver na Graça de Deus.

Fazendo eco em cada um de nós do sim que salta do coração de Maria de Nazaré sentimos a exigência de responder ao apelo de Deus com um sim generoso e empenhado na renovação da humanidade que anseia pela libertação que só Jesus Cristo poderá oferecer.

Tudo é obra do Espirito Santo. Eis a resposta dada às desculpas e às dúvidas que se geram pela incompreensão do mistério que se revela pela presença operante de Deus na história dos homens. Daí, o convite a abrirmo-nos à sabedoria que nos vem pela actuação do Espirito Santo e nos leva a saborear os dons com que Deus nos enriquece e a missão que nos está confiada.

Deixemo-nos, então, invadir pela alegria e encanto que as palavras de S. Paulo despertam em nós a convidar-nos a apreciar os dons espirituais com que somos enriquecidos, como Deus nos escolheu desde sempre para revelar em nós a santidade e como nos predestinou para sermos Seus filhos adoptivos e, como tal, maravilharmo-nos pela herança divina a que temos direito.

Realmente Deus quer fazer de nós um hino de louvor da Sua glória dando-nos a Jesus Cristo por todos esperado.

De olhos voltados para Maria de Nazaré, a Cheia de Graça, somos confrontados com as suas palavras que exigem ser pronunciadas na vida de cada cristão quando diz «eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a Tua palavra».

Também hoje, pela ordenação de três diáconos e a instituição de um Leitor para a nossa Igreja diocesana sentimo-nos pertença de uma comunidade cristã que tem como objectivo da sua missão ser como Jesus Cristo, serva no meio do mundo.

Vós sois, hoje, caros candidatos ao diaconado e ao leitorado um convite vivo e exemplar para que a Igreja realize esta sua primeira missão de ser servidora da pessoa e da sociedade, promovendo a dignidade de cada um e o bem comum de todos.

No contexto da evangelização, única tarefa da Igreja, o serviço é a prática que revela mais nitidamente a credibilidade evangélica da comunidade cristã. Di-lo o Papa Francisco quando afirma que «a evangelização procura colaborar também com esta acção libertadora do Espírito» (EG, 178). Mais ainda, «o próprio mistério da Trindade nos recorda que somos criados à imagem desta comunhão divina, pelo que não podemos realizar-nos nem salvar-nos sozinhos»(Ib., 178).

Deste modo, «a partir do coração do Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a acção evangelizadora» (Ib, 178). Sem dúvida que «a aceitação do primeiro anúncio, que convida a deixar-se amar por Deus e a amá-Lo com o amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas suas acções uma primeira e fundamental reacção: desejar, procurar e ter a peito o bem dos outros» (Ib. 178).

Acompanhando as acções de caridade e partilha que continuamente nos são solicitadas está o convite a construir o Reino de Deus. Isto é, Deus que está no mundo e pela acção do Espirito Santo quer ser conhecido e vivido por todos.

Caros ordinandos e candidato ao leitorado, assim reconhecemos que a  proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4, 43); «trata-se de amar a Deus, que reina no mundo». Como afirma o Santo Padre, «na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos» (Ib. 180). E acrescenta que «tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais».

Eis então o desafio que nos é lançado pelo próprio Senhor Jesus Cristo: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).

Na verdade, «o projecto de Jesus é instaurar o Reino de seu Pai; por isso, pede aos seus discípulos: “Proclamai que o Reino do Céu está perto”» (Mt 10, 7) (Ib. 180).

A Igreja, na sua missão evangélica, é chamada a ouvir o clamor dos pobres e a socorre-los. Procurai, caros ordinandos e candidato ao ministério de leitor, discernir o «gemidos do Espirito», segundo as palavras de S. Paulo, que está, no meio de perplexidades e incompreensões a edificar uma nova humanidade. Desassossegai a consciência cristã e denunciai o mal reinante no mundo.

A Igreja que é desafiada a renovar-se e refontalizar-se no Concilio Vaticano II tem vindo a sentir a exigência de se centrar no essencial da sua missão que tem no serviço, na diaconia e na entrega total de si mesma a imitação de Jesus Cristo Mestre e Senhor.

Pela ordenação de diácono, e já na instituição nos ministérios laicais, cada um de vós vai fortalecer a comunhão eclesial e vai despertar a comunidade cristã para a sua condição de servir sobretudo os que mais precisam.

Sois um despertar da consciência cristã para que a partilha fraterna seja uma prática comum entre os membros da comunidade e uma presença evangélica no meio do mundo.

Porque a Igreja só se pode entender como servidora em todos os seus membros, temos necessidade de promover comunidades cristãs onde todos os ministérios estejam presentes e sejam visíveis e actuantes, sejam os ministérios ordenados, sejam os ministérios laicais.

Só, deste modo, estaremos a ser consequentes com a vontade de Deus que chama todos os baptizados, cada um segundo a sua condição, a exercerem a missão da Igreja na comunidade e no mundo e a serem fermento do evangelho na cultura e na sociedade.

Diz-nos o Evangelho que o Anjo entrou onde estava Maria de Nazaré para a saudar e a comprometer com a missão divina. Na verdade, também hoje, Deus continua a entrar onde nós estamos para nos saudar e para nos comunicar a missão que quer despertar em todos nós. Abramo-nos à Graça e à Vida divinas no contexto do nosso lugar e sejamos generosos na resposta ao convite de Deus.

Termino implorando de Nossa Senhora da Conceição, Mãe e Rainha dos Açores que junto do Seu Filho interceda por vós que ireis receber a ordenação de diácono e a instituição no ministério de leitor e abençoe a vossa missão e vos ensine os caminhos da alegria pelas sendas da evangelização do mundo de hoje.

 

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores