Igreja Paroquial do Salão. Faial.

Após vários anos de trabalho, sacrifício, generosidade, partilha e expectativa, eis-nos com sentimentos de alegria e acção de graças na celebração de bênção e dedicação da nova Igreja desta paróquia do Salão.

Ela é sinal de um povo convocado por Deus que se reúne para louvar o Seu Senhor, saborear as Suas maravilhas, partilhar dons e corresponder à missão para a qual é convocado.

Caros cristãos, certamente o que aqui aconteceu, como em muitos outros lugares da nossa diocese, algo que se desmorona para dar lugar ao novo, serve de indicador para a vida comunitária que exige ser constantemente renovada e reedificada pela acção do Espirito Santo.

Se soubemos aproveitar bem o tempo da edificação deste templo, reconhecemos como um outro templo se foi fortalecendo. Refiro-me à paróquia com todos os seus baptizados, grupos e movimentos que são chamados à comunhão e à unidade, à participação activa e corresponsabilidade na missão da Igreja.

Tal como nos exorta a primeira leitura segundo o profeta Isaias, somos chamados à alegria. Na verdade, esperamos que se concretize também para nós, o que promete o Senhor através do profeta: «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como a torrente que transborda».

Que este templo seja lugar onde nos encontremos com Deus de tal modo que também possamos experimentar o Seu carinho, a Sua  ternura, a sua bondade e a Sua misericórdia, como «a mãe que anima o seu filho» assim o Senhor nos confortará.

Mas, S. Paulo vem dar-nos uma profundidade maior à alegria, convidando-nos a não ficarmos ligados ao passado, aos ritos vazios, às normas estéreis, mas sim a vivermos a novidade que nos vem da relação de comunhão com Jesus de Nazaré.

Tão forte é a experiência de comunhão com Jesus Cristo que Paulo afirma que leva no seu próprio corpo as marcas de Jesus. Bela expressão e profunda vivência.

De facto, para nós que estamos habituados a repetir as tradições sem atender ao seu conteúdo, seduzidos por um mundo que atrevidamente quer invadir o espaço sagrado da fé cristã e mutilados por uma cultura medíocre que se esgota no presente e sem horizontes de futuro, eis-nos provocados pela experiência de vida de Paulo que nos oferece algo de inaudito ao referir que a sua glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Eis a profundidade a que somos chamados ao descobrirmos a alegria na cruz. Sim, realmente a cruz, sinal do amor, da generosidade, da docção pessoal, da entrega voluntária a Deus e aos irmãos, na fidelidade e autenticidade, terá de resultar em alegria, felicidade e encanto.

Que maravilhoso convite nos é dirigido neste dia e neste lugar. Igreja, assembleia que se reúne neste espaço para aprender da Palavra de Deus o significado profundo da vida que não poderá ser outro que o encontro com Deus Criador e Salvador e com os irmãos.

Este lugar reclama de nós o que de mais nobre nos faz sair do individualismo e nos convida a ser pessoa de relação, de partilha, participante activa de uma comunidade cristã.

Tal como aconteceu na força da natureza que fez cair algo de antigo e forçou a reerguer algo de novo, perante esta metáfora, sabemos que há um mundo antigo, preso ao mal, ao pecado e à morte, que tem de dar lugar a um mundo novo na verdade, no amor, na liberdade autêntica, na justiça e na paz.

É nesta charneira que se coloca a Cruz de Cristo que assumimos livremente e que fazemos dela o sinal do esforço de renovação e conversão.

Esta profunda liberdade, à maneira de Jesus Cristo, está muito patente no Evangelho quando Jesus chama os seus discípulos e os envia por aldeias e cidades, livres e desprendidos, apenas com a força e a paixão pela Boa Nova do Reino de Deus.

Nós queixamo-nos de falta de vitalidade das nossas comunidades cristãs; somos atacados por pessimismo que tantas vezes resulta em queixume e pouco dinamismo evangelizador, e perguntamo-nos porquê. Não será porque estamos demasiado sobrecarregados por muitas coisas mundanas, da sociedade, da cultura actual, presos a preconceitos, amarrados a interesses pessoais que não nos deixam livres e disponíveis para apreciar a beleza da Boa Nova de Jesus Cristo?

A Igreja no seu todo, cada comunidade paroquial, grupo ou movimento, e cada cristão em particular, estão a ser convidados a despojarem-se de todas os laços que vêm do mundo e que não deixam caminhar na autêntica liberdade e a encetarem um novo caminho à maneira de Jesus Cristo que não tinha onde reclinar a cabeça e que afirmou ter vindo para servir e não para ser servido.

Será que não reconhecemos na maravilhosa acção do Papa Francisco precisamente este apelo a uma Igreja mais evangélica, purificada, despojada e plenamente servidora da dignidade humana e do bem comum?

Refere Jesus Cristo que «a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Dono da seara que mande trabalhadores para a Sua seara». Na verdade, os trabalhadores são sempre poucos. Aqui, tanto se pode entender na quantidade como na fidelidade ao Evangelho. Por isso, as palavras de Jesus estão marcadas pelo mistério que envolve a missão evangelizadora.

Sendo um mistério, não poderá ser feita segundo os nossos critérios e projectos. Só quem se deixa envolver neste mistério que é de Deus mas igualmente provoca a nossa resposta ao envio que nos é dirigido poderá saborear, apreciar e valorizar a missão que brota do coração de Deus.

Por isso, refere o Evangelho, que os discípulos regressaram cheios de alegria. Eis a experiência que toca a cada cristão consciente da sua missão.

A nossa diocese vai iniciar um novo estilo de vida pastoral a que chamamos caminhada sinodal. O lema que vai nortear os próximos anos reza assim: «A beleza de caminharmos juntos em Cristo».

A Igreja renovada segundo o Concilio Vaticano II, não pode ser de outra maneira. Comunidade, cujos membros participam nela activamente, caminham juntos e assumem corresponsavelmente a missão evangelizadora da Igreja.

Lembro uma passagem do Papa Francisco que diz: «a evangelização é dever da Igreja» (EG., 111). Deveras, «este sujeito da evangelização, porém, é mais do que uma instituição orgânica e hierárquica; é, antes de tudo, um povo que peregrina para Deus» (EG., 111).  De facto, «trata-se certamente de um mistério que mergulha as raízes na Trindade, mas tem a sua concretização histórica num povo peregrino e evangelizador, que sempre transcende toda a necessária expressão institucional» (EG., 111).

Aliás, «em virtude do Baptismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário (cf. Mt 28, 19)» (EG., 120).  Reconhecemos, então, que «cada um dos baptizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito activo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas acções» (EG., 120).

Na verdade, «a nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos baptizados» (EG., 120).

Como recomenda o Papa Francisco, «não digamos mais que somos “discípulos” e “missionários”, mas sempre que somos “discípulos missionários”» (EG., 120).

Estando nós na bênção e dedicação de uma nova Igreja, não poderia deixar de me dirigir a vós jovens para vos convidar a uma participação mais activa na comunidade cristã, a projectardes os vossos sonhos na renovação da Igreja e no anuncio jubilosos da Boa Noticia de Jesus Cristo no mundo de hoje.

Imploro de Nossa Senhora do Socorro, Mãe e Rainha dos Açores que abençoe as crianças, os jovens, as famílias e os idosos, proteja os emigrantes e os excluídos da sociedade e nos conceda a força e coragem para a renovação da Igreja e para o anuncio de Jesus Cristo, o Seu Filho ao mundo de hoje.

 

Amen

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores