Sobre a Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações sociais 2018

Esta mensagem de um atualidade impressionante que se propõe versar a denuncia  das falsas notícias e a promoção da verdade na comunicação social, começa por afirmar que «hoje, no contexto duma comunicação cada vez mais rápida e dentro dum sistema digital, assistimos ao fenómeno das “notícias falsas”, as chamadas fake news: isto convida-nos a refletir, sugerindo-me dedicar esta Mensagem ao tema da verdade».

Referindo-se às fake news como fruto da desinformação transmitida online ou pelos meios de comunicação sociais tradicionais, estas noticias falsas dizem respeito «a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário». Mais ainda, «a sua divulgação pode visar objetivos predefinidos, influenciar opções políticas e favorecer lucros económicos».

Como factores para a eficácia da sua transmissão o Papa aponta dois motivos principais. O primeiro tem a ver com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem ao seu funcionamento; o segundo refere-se ao facto das pessoas interagirem muitas vezes dentro de ambientes digitais homogéneos e impermeáveis a perspectivas e opiniões divergentes.

Considera o Santo Padre que «o drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos». Através da intolerância e hipersensibilidade que têm como resultado a arrogância e o ódio, chega-se à falsidade.

A pergunta que se coloca na mensagem é como poderemos reconhecer as noticias falsas? A resposta manifesta a sua dificuldade porque se revestem de mecanismos refinados. Contudo, aponta-se o caminho da educação que aponte para a avaliação e leitura do contexto comunicativo, para as iniciativas institucionais e legislativas que visem circunscrever o fenómeno e ainda para iniciativas que se manifestam «idóneas para definir novos critérios capazes de verificar as identidades pessoais que se escondem por detrás de milhões de perfis digitais».

Realça ainda que se torna necessário um discernimento profundo e cuidadoso. Neste instrumento apresenta a «lógica da serpente», astuta que faz passar o mal pelo bem.

Encarada a falsa comunicação como embuste do mal «que se move de falsidade em falsidade para nos roubar a liberdade do coração» e que assenta em motivações económicas e oportunistas da desinformação que por sua vez têm a sua raiz na sede de poder, ter e gozar, o Santo Padre aponta o caminho da educação para a verdade que «significa ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós».

Passa-se então a apresentar o antidoto mais radical ao «vírus da falsidade» que é «deixar-se purificar pela verdade.

No texto da mensagem define-se a verdade como «aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair». Assim, «neste sentido relacional, o único verdadeiramente fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único «verdadeiro» é o Deus vivo».

Realçam-se, deste modo, dois ingredientes que não podem faltar e que dizem respeito à libertação da falsidade e relacionamento. Só, assim, as nossas palavras e os nossos gestos são verdadeiros, autênticos e fiáveis.

Segundo o Papa Francisco «para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor» porque a verdade brota de relações livres entre pessoas, na escuta reciproca.

Deste modo, «o melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas: pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem».

Define-se, então, a missão do jornalista como guardião das noticias que terá de reconhecer sempre que no centro das noticias não estão a velocidade em comunica-las nem o impacto sobre as audiências, mas as pessoas.

Só deste modo se poderá afirmar que «informar é formar, é lidar com a vida das pessoas». Mais ainda, «a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz».

Daí o convite do Papa Francisco à promoção de um jornalismo de paz que se caracteriza como «sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às escaladas do clamor e da violência verbal».

Eis algumas das intuições que se desprendem desta notável mensagem que ajuda a ler a realidade da comunicação social, que interpela ao sentido profundo e responsabilidade de quem comunica, sublinha sem ambiguidades as características de uma cultura que destorce a comunicação no seu sentido de verdade e promotora de comunhão e de paz, e por fim realça o valor da dignidade humana a salvaguardar em toda a lógica comunicativa e em todos os meios que se utilizam.

 

+João Lavrador, Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, dos Bens Culturais e das Comunicações Sociais