Sé Catedral – Angra.

Preparai os caminhos do Senhor!

Então todos terão acesso à salvação que Jesus Cristo nos traz.

Eis-nos perante uma exigência e eis-nos também com a universalidade da salvação. E segundo a palavra de Deus uma está ligada à outra. Assim, do modo como prepararmos o caminho do Senhor assim também toda a humanidade terá acesso à salvação que Jesus Cristo nos traz. É esta a exigência, é este o convite para olharmos o nosso mundo com esperança.

Por isso este segundo domingo do advento tem a tónica da esperança. Esperança que abarca toda a história da salvação. Mas é uma esperança que está localizada, que tem rosto naqueles que a vivem, exortam e a transmitem.

É a esperança que atinge a história da salvação porque tem o seu eixo, realmente, naquele grande acontecimento que é o nascimento de Jesus Cristo; e por isso exige a preparação. Aí temos o relato do evangelho segundo o qual João Batista se nos apresenta a proclamar a penitência, a exortar a que cada um e cada comunidade possam verdadeiramente preparar os caminhos do Senhor e a fazer um gesto, o gesto do batismo penitencial, pelo qual quer reconhecer que cada um de nós tem que limpar, tem que lavar a sua própria vida, a sua própria existência, para se purificar no sentido de que Deus tenha caminho aberto para entrar no ser de cada um de nós e para Se acolher no íntimo de cada comunidade cristã.

Mas leva-nos mais além e convida-nos a olhar já a partir do Antigo Testamento, segundo o texto da primeira leitura, para o Reino Novo, Messiânico que se concretizará em Jesus Cristo.

Eis o convite a reconhecermos na docilidade à qual nós somos convidados que Deus tem a iniciativa de transformar a existência da humanidade através do Seu povo cantado através da cidade de Jerusalém. Alegra-te Jerusalém! Alegra-te! Como que a dizer-nos a cada um de nós, alegremo-nos! Como que a dizer a todo o mundo que se deve alegrar.

Já que estamos situados no Antigo Testamento em que normalmente o profeta olha para o seu povo e vê nele e nas suas circunstâncias concretas, no seu sofrimento, na sua deportação ou em tudo o que foi o seu pecado, que afinal não está aí a última palavra, mas por fim Deus veio ao seu encontro com um propósito de redenção e de salvação para transformar a existência desse mesmo povo.

Nós hoje poderíamos estender e reconhecer que não estamos restritos a um povo, mas estamos perante a humanidade no seu todo que sofre tanto com as situações de injustiça, de mal e de pecado seja individual seja estrutural, com a ameaça a vida das pessoas.

Há tanta falta de esperança que é preciso nós colhermos do profeta Baruc , tal como ouvíamos na primeira leitura, esta confiança.

É a confiança que nos é dada na fé de que Deus não nos deixará nesta situação, mas quer abrir a salvação a toda a humanidade. E por isso convida à esperança. Também aqui se diz que Deus há-de demolir tudo aquilo que no fundo é obstáculo a que Ele se possa revelar e que se possa manifestar na vida de cada um e de cada povo.

É sem dúvida uma esperança localizada. É muito curioso que o evangelho que nós escutámos tem o mesmo contexto histórico com que nos deparamos no nascimento de Jesus. Também neste episódio se diz qual foi o momento em que João Batista aparece a proclamar este convite à penitência e a fazer este gesto do batismo de reconciliação e de transformação através da água. Isto para nos dizer que toda a salvação é sempre localizada. Foi aquele tempo, é este tempo. É o tempo de hoje em que nós devemos escutar a Palavra de Deus, que nos devemos abrir a essa mesma palavra. É o tempo de hoje. Tem os seus sofrimentos, tem as suas angústias, tem as suas perplexidades, tem tantas e tantas situações que vão contra aquilo que são os sonhos e a esperança das pessoas e dos povos.

É neste tempo concreto que o Senhor envia aquele que no fundo é chamado a proclamar, a realizar e a fazer gestos concretos de reconciliação e de transformação capazes de garantirem, na confiança em Deus, a esperança que o povo realmente procura.

Dizia, tem rosto, pessoas concretas, afinal é o profeta Baruc que em si mesmo, na sua experiência de Deus e na confiança que esta lhe dá que é capaz de afirmar isto mesmo. Aquilo que porventura outros não têm possibilidades de ver, ele reconhece que Deus no seu amor e na sua bondade vai intervir e vai transformar a existência da humanidade.

No fundo é o próprio João Batista que neste domingo segundo do advento se torna de alguma maneira figura e modelo para todos nós para nos dizer que em João Batista também cada comunidade e cada cristão se olham e se vêem de algum modo como arauto desta mesma penitência, como aqueles que em si mesmos e à sua volta exortam a que se derrube tudo aquilo que seja obstáculo para que Jesus Cristo venha, para que Ele se manifeste e ao mesmo tempo que em cada um de nós nos encontremos com esta humanidade, toda ela, que está à espera, da nossa parte ,de gestos concretos de esperança e de transformação; e que a partir de nós, possamos abrir o olhar, abrir o coração, abrir o entendimento daqueles que se cruzam connosco para que Jesus Cristo realmente seja a salvação universal, seja a salvação para todos.

Mas o mesmo São Paulo também perante uma comunidade concreta vem dizer o mesmo. Afinal São Paulo dá graças a Deus por esta comunidade de Filipos, pela maneira como ela aderiu ao evangelho e como ela progrediu na relação com o Evangelho.

Mas ele exorta ao dizer que é preciso ir mais além. É este mais além que o Senhor nos convida neste ano. E por isso vamos continuar nesta caminhada de advento, neste ano localizados, sabendo que o Senhor conta connosco para alicerçar a sua esperança em cada um de nós e em cada comunidade. Mas também conta connosco para sermos testemunhas, com gestos concretos visíveis perante aqueles que mais sofrem desta esperança de Deus que quer atingir a todos.

 

+ João Lavrador

Bispo Coadjutor de Angra e Ilhas