Sé Catedral. Angra.

Diz-nos o Evangelho que «Jesus viu uma grande multidão e subiu ao monte. Depois, sentou-se e os discípulos aproximaram-se d’Ele. Tomou então a palavra e começou a instrui-los». Na verdade, nós fazemos parte desta multidão que quer ser instruída por Jesus Cristo, pelas Suas palavras e pelos Seus gestos; somos igualmente os Seus discípulos que nos aproximamos d’Ele para melhor partilharmos da Sua vida.

Sem dúvida que a celebração de hoje na qual honramos todos aqueles que vivem a plenitude da Vida divina e nos sentimos interpelados a caminharmos pelas sendas da perfeição, e agradecemos o dom de um novo sacerdote para a nossa Igreja diocesana fazem-nos aproximar mais de Jesus Cristo e saborear os Seus dons que Ele continuamente nos oferece.

Caro Diácono Nelson, hoje, ajudas-nos a fazer a experiência da maravilhosa filiação divina e a pronunciar com os nossos lábios as encantadoras palavras de S. João quando afirma «vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus! E somo-lo de facto».

Precisamente a partir desta deslumbrante descoberta da nossa filiação divina, sentimos que toda a Vida de Deus está em nós e que a liberdade tão ansiada nos leva pelo amor ao encontro do chamamento que Jesus Cristo nos dirige e à única resposta que brota igualmente do amor que se revela na entrega total de cada pessoa a Deus e aos irmãos.

Certamente é esta a experiência que acompanha a tua caminhada, caríssimo Nelson, na entrega total da tua pessoa que hoje nos interpela a todos nós. Sim, porque na tua atitude de quem vive plenamente a filiação divina e caminha no amor que se faz dócil à vontade de Jesus Cristo está o desafio mais importante lançado a cada um e sobretudo a todo o baptizado.

A santidade é a vivência da plenitude da vida humana. Não o fazemos pelas próprias capacidades mas sim pela iniciativa amorosa de Deus que em Jesus Cristo e pela acção do Espirito Santo não deixa de nos acompanhar e de nos inspirar para progressivamente possamos atingir a «estatura de Cristo». Por isso, afirma ainda S. João que embora filhos de Deus «ainda não se manifestou o que havemos de ser», porque quando «se manifestar seremos semelhantes a Deus, porque o veremos tal como Ele é».

A vida é um itinerário, a condição de discípulo manifesta-se na caminhada continua para alcançar Aquele que já veio ao nosso encontro, Jesus Cristo.

Prezado Nelson, inicia-se hoje uma caminhada na tua vida que necessita de ser renovada em cada dia. Só deste modo não perderás a frescura desta hora e a alegria que inunda a tua alma pela doacção total de ti mesmo. Porque é uma entrega no amor, exige-se uma vigilância e um cuidado permanentes, um esforço por aumentar cada dia mais a experiência de comunhão com Deus e com os irmãos sacerdotes, vivendo uma autêntica experiência de presbitério, um vigor apostólico assente no mandato de Jesus Cristo e nas exigências que a Igreja coloca para uma acção pastoral adequada aos tempos em que vivemos.

Assenta a tua vida sacerdotal na oração intensa, na vivência assidua dos sacramentos, na escuta da Palavra de Deus, no discernimento dos Sinais dos Tempos, no empenho pastoral, escutando o que o Espirito de Deus pede para a renovação da missão da Igreja no meio do mundo, na caridade diligente.

Como forma de manifestação da autêntica liberdade, estás a despojar-te de ti mesmo para te entregares totalmente a Jesus Cristo e aos irmãos. Conhecendo a Igreja na qual queres viver o teu sacerdócio em presbitério, irás realizar a missão da Igreja e não a tua missão, por isso, és chamado a configurares a tua pessoa, a tua vida e todas as tuas faculdades pessoais com Jesus Cristo para as viveres em comunhão eclesial.

Jesus Cristo, hoje, convidando-nos a aproximarmo-nos d’Ele entrega-nos o projecto de vida de todos os Seus discípulos  presente nas Bem-aventuranças. Eis, Diácono Nelson, o teu projecto.

Na imitação de Jesus Cristo, descobre continuamente a felicidade única que vem pela comunhão de vida com os pobres, com os que choram, com os humildes, com os que têm fome e sede de justiça, com os misericordiosos, com os de coração puro, com os que promovem a paz, com todos os que são perseguidos por amarem a justiça. Mais ainda, faz deste apelo de Jesus Cristo, a arquitrave da tua existência de modo que todos os que se aproximarem de ti te reconheçam como pessoa que acolhe como Deus acolhe, que os eleva até Deus, que sintoniza e compreende todos os seus sofrimentos e perplexidades como Cristo que carregou com os nossos males para nos restituir a dignidade perdida pelo pecado.

Só numa profunda vivência de comunhão com Jesus Cristo se poderá saborear a riqueza e a alegria que estão por detrás das palavras do Evangelho com as quais culminam as Bem-aventuranças: «Felizes sereis quando, por Minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, vos acusarem de toda a espécie de mal». Exclama, então «alegrai-vos e exultai, pois é grande nos Céus a vossa recompensa».

O mundo de hoje necessita de sacerdotes que sejam profetas de uma realidade nova; conhecedores do coração humano tenham a capacidade de elevar as pessoas mergulhadas no materialismo para o encontro com Jesus Cristo, presentes nas marginalidades humanas se deixem envolver para ajudarem a integrar todos os que estão fora, discernindo no mundo os clamores dos pobres saibam encontrar a linguagem para lhes falar de Deus que os acolhe.

É muito nobre a missão do sacerdote no tempo actual. Sim, sê sacerdote para os tempos de hoje e para a Igreja que se reveste de renovação através do Concilio Vaticano II. Procura a capacidade para responder às inquietações actuais da pessoa humana.

A primeira leitura refere-nos «uma multidão dos que lavaram as suas túnicas no sangue do Cordeiro». Esta realidade exorta-nos a abrirmos a nossa acção pastoral a todos, a promover comunidades em que cada baptizado participa da missão da Igreja, a desenvolver os serviços e ministérios na edificação de comunidades cristãs com ímpeto missionário.

Não cedas, Diácono Nelson, a refúgios ultrapassados que não respondem à humanidade de hoje. Pelo contrário, apesar de todas as dificuldades que possas enfrentar na missão pastoral, confia em Jesus Cristo, apoia-te no presbitério, vive em comunhão de Igreja, aprofunda as ciências e a fé e reveste-se da armadura de Cristo pela graça e pela oração.

Termino implorando do Beato João Baptista Machado a sua protecção e inspiração como modelo de evangelizador e a Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores que te abençoe a ti e ao teu ministério e como Mãe esteja sempre presente na tua missão sacerdotal.

Amen.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores