Sé Catedral. Angra.

Semana Nacional de Educação Cristã

23 Out 2016

         Decorre entre os dias 21 e 30 de Outubro a Semana Nacional de Educação Cristã. Com ela pretende-se convidar todos os cristãos e os homens e mulheres de boa vontade a reconhecerem e valorizarem a educação no seu todo e a educação cristã em particular.

No decorrente ano, o domingo que integra esta semana é também dedicado à consciencialização da missão na vida do cristão e da comunidade cristã. Deste modo podemos enriquecer-nos com o reconhecimento que a educação cristã faz parte da missão da Igreja e, mais ainda, é a causa fundamental da evangelização.

Há dois pensamentos que decorrem da Palavra de Deus que escutámos. O primeiro é expresso por S. Paulo na segunda leitura que, a modo de testamento final da sua vida, num dado passo diz o seguinte: «o Senhor esteve a meu lado para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem»; o segundo depreende-se da primeira leitura e do Evangelho nos quais se reconhece que a Palavra de Deus é destinada a todos e tem como missão fomentar uma comunidade fraterna de partilha e de comunhão.

Na Nota Pastoral que a Comissão Episcopal da Educação Cristã publicou a propósito desta semana, destaca-se a urgência de promover uma educação que seja integral, que promova o desenvolvimento harmonioso das pessoas, que alicerce a justiça, a paz e o bem estar das sociedades.

Daí destacar-se quatro critérios que se julgam importantes e necessários para uma verdadeira educação e para a qual a Igreja sente o dever de colaborar.

O primeiro critério é a consciência de que educar é uma caminhada e por isso, reveste-se de dinamismo, de progresso de crescimento contínuo até à plenitude. Como aí se diz: «fazer caminho é dar passos, treinar ritmos, aprender com as novas experiências de cada idade, pois o caminho faz-se caminhando».

O segundo evoca as referências a propor na educação. Só deste modo a educação se orienta por uma finalidade e se sustenta num guia ao longo da caminhada. Para os cristãos a verdadeira referência é Jesus Cristo que ao mesmo tempo nos guia pelo caminho sempre novo. Como se pode ler no Evangelho, Ele trouxe-nos a vida e a vida em plenitude que se experimenta no seguimento e na graça por Ele derramada nos nossos corações.

Mas esta referência e guia exige também o testemunho daqueles que uma vez a viver a vida de Cristo sentem que O devem tornar presente junto dos seus irmãos.

Refere a citada Nota Pastoral que «também hoje à nossa volta podemos descobrir muitas testemunhas admiráveis da fé que, por sua bondade e rectidão, mostram como o Evangelho é uma força para o bem e uma luz que ilumina a escuridão». Por isso, as nossas fragilidades só serão iluminadas e superadas à luz de Jesus Cristo que nos renova constantemente.

O terceiro critério refere-se à educação como promotora de fraternidade e de comunidade. Toda a educação deve integrar a pessoa numa comunidade e deve ser promotora de fraternidade. Mas dada a fragilidade humana, sem a intervenção de Jesus Cristo que se aproxima de cada pessoa, são muitos os obstáculos que se colocam à verdadeira fraternidade e à valorização comunitária.

Sublinha a Comissão Episcopal da Educação Cristã que «o grande sinal que identifica o cristão é o amor, a misericórdia, o serviço aos mais humildes e desprotegidos» e, por isso, «se queremos construir um mundo solidário em que todos se sintam acolhidos, respeitados e integrados temos de rejeitar a indiferença, a agressividade, a luta de classes, a violência (…) e cultivar a fraternidade, o diálogo, a compreensão e as relações cordiais».

A resposta a este mundo em guerra, que se manifesta de diversas formas, só poderá vir da comunhão vivida e convivida na fraternidade.

Por último propõe-se que educar é formar agentes e mudança e de transformação social. Uma das finalidades da educação é a intervenção na sociedade que é igualmente uma exigência para o cristão. O sonho de um mundo novo exige pessoas que se entreguem corajosamente à sua concretização.

Em Jesus temos o orientador, o amparo e a luz. Ele como o verdadeiro Bom Pastor conduz-nos pelas fontes da alegria e nos eleva até à plenitude da vida.

Numa cultura que se apropria da educação para interesses particulares e de grupo esvaziando-a da sua mais sublime missão que é construir a pessoa na sua integralidade e na sua transcendência; numa sociedade que ideologiza a educação tornando a pessoa humana objecto de interesses políticos e económicos, cerceando-lhe a sua plena identidade e realização e transformando-a em número de contabilidade social; exige-se o despertar de todos os intervenientes com responsabilidade prioritária na educação, a família, a própria pessoa, as comunidades, onde se inclui a Igreja, e o Estado com poder supletivo.

Porque a educação não poderá de prescindir da visão harmoniosa e global do ser humano, a Igreja sente que lhe pertence a tarefa, por missão divina, de estar presente na educação para ajudar cada pessoa, cada família e a sociedade no seu todo para que os valores do Evangelho informem a evolução e o crescimento de cada criatura.

Educar é formar para a liberdade autêntica que só se poderá possuir através da busca árdua da verdade, do empenho afincado na comunhão e no amor, na descoberta da beleza e do bem.

Só na configuração a Jesus de Nazaré, o Homem Novo, que revela ao homem o próprio homem, se poderá adquirir, na caminhada pessoal e comunitária, Aquele para O qual caminhamos. Ele pela Sua encarnação já nos alcançou e caminha connosco pelos caminhos da história.

Por último, importa lembrar a importância dos meios para educação cristã e que devem ser valorizados pelas famílias, pela comunidade e pela sociedade em geral. Refere o Concilio Vaticano II que «no desempenho do seu múnus educativo, a Igreja preocupa-se com todos os meios aptos, sobretudo com aqueles que lhe pertencem; o primeiro dos quais é a instrução catequética que ilumina e fortalece a fé, alimenta a vida segundo o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente e activa no mistério de Cristo e impele à acção apostólica» (GE, 4). Acrescenta ainda, que «a Igreja aprecia muito e procura penetrar e elevar com o seu espírito também os restantes meios, para cultivar as almas e formar os homens, como são os meios de comunicação social, as múltiplas organizações culturais e desportivas, os agrupamentos juvenis e, sobretudo, as escolas» (GE,4).

Termino implorando de Nossa Senhora que é a primeira testemunha da fé e modelo de educadora, que nos abençoe neste trabalho fundamental para a familia, para a sociedade e para a Igreja e sobretudo acompanhe com maternal solicitude todos os educadores, catequistas e catequizandos.

Amen.

 

+João Lavrador

Bispo de Angra e Ilhas dos Açores