Turlock, Califórnia.

          Nossa Senhora na mensagem que traz ao mundo e que entregou aos três pastorinhos em Fátima abre um futuro de esperança para a humanidade que vivia amedrontada pela guerra e pela destruição e pairava sobre ela horizontes de morte e de catástrofe.

          Estamos em época histórica diferente com acontecimentos distintos que marcam a nossa vida do dia a dia. Mas o apelo feito por Nossa Senhora continua a ser de uma actualidade impressionante.

          O mundo actual continua a ter necessidade de esperança, a humanidade de hoje deseja recuperar as fontes da esperança e tantas vezes sem a saber encontrar, a nossa terra sente-se necessitada da abertura do céu para este lhe comunicar a Boa Nova para consolar tantos corações desolados, tantos espíritos abatidos, tantos braços cansados, tantas vidas destruídas.

          Nossa Senhora em Fátima não só ajudou a ler os sinais dos tempos e as causas de tal situação mas ofereceu uma perspectiva de esperança ao dizer que a paz poderá ser alcançada e que o seu coração imaculado triunfará.

          Na verdade o mistério de Nossa Senhora está intimamente ligado ao Mistério de Jesus Cristo seu Filho e igualmente relacionado com a vida concreta dos seus irmãos.

          Como tal, Maria de Nazaré é convidada  a ser a Mãe de Jesus e, deste modo, a abandonar-se à vontade e ao plano salvífico de Deus que que a chama a entregar-se totalmente para que o Verbo de Deus pela encarnação se torna-se presente no meio da humanidade. Perante a novidade e a surpresa de Deus, Maria iluminada pela acção do Espirito Santo oferece-se a Deus para que Ele realize o mistério da Redenção na história dos homens.

          Igualmente, tal como nos revela o Evangelho, Maria de Nazaré desloca-se para sair ao encontro daqueles que dela têm necessidade. Na resposta à exortação que dela faz a sua prima Santa Isabel, elogiando a sua fé, ela responde enaltecendo a misericórdia e o poder de Deus e como Ele intervem no mundo transformando a sociedade. O sonho dos humildes e dos simples, dos pobres e dos marginalizados são agora plenamente realizados.

          Este mesmo mistério é revelado em Fátima. Por isso, dizia o Papa Bento XVI, em 2010, na celebração que aí celebrou, «sim! O Senhor, a nossa grande esperança, está connosco; no seu amor misericordioso, oferece um futuro ao seu povo: um futuro de comunhão consigo».

          Em Fátima, deparamo-nos com uma mensagem que convida à vida em união com Deus e ao compromisso para com os irmãos. Sentimos a revelação da mística que está presente na mensagem de Nossa Senhora quando Ela, verdadeira «Mestra que introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do Amor Trinitário e os leva a saborear o próprio Deus como o mais belo da existência humana». Na verdade tornou-se «numa experiência de graça que os tornou enamorados de Deus em Jesus, a ponto da Jacinta exclamar: “Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo. Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo”. E o Francisco dizia: “Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus!”».

          Esta luz interior que viveram os pastorinhos é a mesma experiência que se manifestou na plenitude dos tempos e que pretende atingir a todos: o futuro de Deus que se abre pela incarnação do Seu Filho Jesus Cristo.

          Como afirma o Papa Bento XVI, «iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída».  Na verdade, «aqui revive aquele desígnio de Deus que interpela a humanidade desde os seus primórdios: “Onde está Abel, teu irmão? […] A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim” (Gn 4, 9)».

O Papa acrescenta que «o homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… Na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima, quando Nossa Senhora pergunta: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”».

Realmente a autêntica esperança depende da nossa comunhão com Deus mas exige de todos nós um compromisso para com Deus e para com a humanidade.

O apelo feito aos pastorinhos é o mesmo que nos é feito hoje porque perante o mundo actual e as suas perplexidades, erros e vicissitudes, somos interpelados a oferecermo-nos a Deus pelo bem dos irmãos.

São bem eloquentes as palavras do Papa Bento XVI que descrevem a nossa sociedade e que sublinham a missão de Maria na obra da reconciliação e da paz. Diz ele: «com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-Se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o Amor de Deus que arde no seu».

Oh como é necessário este transplante de coração em cada homem e mulher de hoje, em cada cristão e em cada comunidade cristã.

Tal como Deus sonhou com uma nova humanidade ao dizer ao profeta Ezequiel (36, 26) «dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne», assim Nossa Senhora deixou o seu coração moldar-se segundo o querer de Deus e pediu à humanidade na Cova de Iria que se deixasse transformar por Ele.

Em Fátima Nossa Senhora fez um forte apelo à conversão, alertando a humanidade para os perigos e o desastre de quem se afasta de Deus e para lembrar que  a meta última do homem é o Céu, sua verdadeira casa onde o Pai celeste, no seu amor misericordioso, por todos espera.

Na verdade, Deus nos seus desígnios de salvação enviou o Seu Filho ao mundo para que este seja salvo.

Também, na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio a Fátima pedir aos homens para «não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido». É a dor de mãe que a faz falar porque está em jogo a sorte de seus filhos.

 Eis então a interpelação que faz aos pastorinhos: «Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas».

Acolhamos também nós esta interpelação de Nossa Senhora.

Imploro de Nossa Senhora de Fátima que abençoe todas as famílias, as crianças, jovens e idosos, os doentes e os que sofrem alguma perturbação e nos encaminhe pelas sendas da evangelização do mundo de hoje.

Amen.

+João Lavrador, Bispo de Angra e das Ilhas dos Açores

2 de Outubro de 2016